segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Ares de poeta (André Luiz Oliveira)

 

A palavra é pântano.

Mergulhai, anfíbio, nessa superfície arriscada!

Se algum dos teus disfarces preservar-lhe a tez,

Dissimula mais um pouco

Sê menos rijo.

Quem sabe do bruto ser

a poesia não te reserva ternura?!



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preta-vida (andré luiz oliveira)

 

ah, pretume impregnante que me acompanha!!

de quantos enxágües forçosos não escapaste para que permaneceste vivo

                                                 [noutros pretos-cingidos iguais a mim

a quem interessa afinal não ser o alvo sobre o qual incides senão aos

                                                                  [indignos de cor?

embora, às vezes, me falte o som quando de mim precisa ouvir a

                                                   [a força de tua imagem,

te carrego deliberadamente como símbolo.

preta-vida da alegria que busco com desejo incansável,

dos sonhos da meninice branda,

daquele beijo de que tive medo ao enfrentar...

preta-cor da poesia em pele, que ora visto

mas que não desejo perder até quando olhos tiver abertos como

                                                                     [duplos círculos

preta-raça em cujo rastro sangra (pois te golpearam covardemente

                                                       [ao passar) e continua avante...

[...

que pena a situação geral não ser preta,

inundando a vida de beleza e ternura!



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terça-feira, 11 de novembro de 2008

Édipo sujo e as equivalências (André Luiz Oliveira)

 

Como se fosse rasgando a brisa

O rosto de barba mal feita e olhos corais

Exibia o sorriso anestésico da vingança

 

Deixava entrever pés descalços no rastro firme

As narinas aguçadas experimentavam a fragrância do último ato

Sentia seu triunfo na sutileza das sonoridades matutinas

 

Queria ser aquele pássaro para esgueirar-se entre os galhos velhos

Desejava ser o réptil em atitude afirmativa e rastejante

Perdia-se em assimilações circunstanciais e antropomórficas

 

Pela primeira vez, sentia aquele prazer animalesco

Que o deixou de pernas bambas e corpo umedecido

Amava aquela anciã desgrenhada que possuíra com voracidade

 

Nem sabia a pobre senhora que seu algoz a venerava;

Que suas unhas pobres outrora havia o extraído do ventre inchado.

Seu filho–lixo lhe roubara a vida: o prazer de tê-lo jogado aos vermes.



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segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Sentimento das coisas

 

Me acostumei com o azul dos azuis,

Pois não houve escolha entre meus olhos-criança

Que aprenderam a olhar apenas uma face

Face à variedade sígnica que desconheci desde cedo.

 

Contentei-me com as concatenações ordinárias

Com a função do á no ar e na água do mar.

 

Acreditei no batismo gratuito das coisas

Que nem sequer se revoltarão contra seus nomes.

 

Nasci e vivo num mundo sabidamente deflorado

Mas a virgindade sobrevive casta e absoluta.

 

Ainda dizem que tenho que cumprir uma missão

Como se minha vida estivesse à venda.

 

Depois de crescido, me vem uma teoria besta

Querer capturar meu desejo com sua música oferecida:

Vá se arrombar Ave Maria!

In nomine Patris, et Filii, et Spiritus Sancti.

 


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quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Tribulação de um pai de família (Kafka)


Alguns derivam do eslavo a palavra Odradek e querem explicar sua formaçao mediante essa origem. Outros a derivam do alemão e admitem apenas uma influência do eslavo. A incerteza de ambas as interpretações é a melhor prova de que são falsas; além disso, nenhuma delas nos dá uma explicação da palavra.
Naturalmente ninguém perderia tempo em tais estudos se não existisse realmente um ser chamado Odradek. Seu aspecto é o de um carretel de linha, achatado e em forma de estrela, e a verdade é que se parece feito de linha, mas de pedaços de linha, cortados, velhos, emaranhados e cheios de nós, de todos os tipos e cores diferentes. Não é apenas um carretel; do centro da estrela sai umahastezinha e nesta se articula outra em 6angulo reto. Com a ajuda desta última de um lado e um dos raios da estrela do outro, o conjunto pode ficar em pé como se tivesse duas pernas.
Seriamos tentados e crer que esta estrutura teve alguma vez uma forma adequada e uma funçao, e que agora apenas está quebrada. Entretanto, esse não parece ser o caso; não há pelo menos nenhum sinal disso; em parte alguma se vêem remendos ou rupturas; o conjunto parece sem sentido, porém completo à sua maneira. Nada mais podemos dizer, porque Odradek tem estraordinária mobilidade e não se deixa capturar.
Tanto pode estar no forro, como no Vão da escada, nos corredores, no saguão. Ás vezes passam-se meses sem que alguém o veja. Terá se aninhado nas casas vizinhas, mas sempre volta à nossa. Muitas vezes, quando cruzamos a porta e o vemos lá embaixo, encostado ao balaústre da escada, temos vontade de falar-lhe.
Naturalmente não se fazem a ele perguntas difíceis, mas sim o tratamos - seu diminuto tamanho nos leva a isso - tal qual uma criança. "Como te chamas?"perguntam-lhe. "Odradek",diz. "E onde moras?" "Domicilio Incerto", responde , e ri, mas é um riso sem pulmões. Soa como um sussuro de folhas secas.
Geralmente o diálogo acaba aí. Nem sempre se conseguem essas respostas; por vezes guarda um silêncio, como a madeira de que parece ser feito. Inutilmente me pergunto o que acontecerá a ele. Pode morrer? Tudo que morre teve antes um objetivo, uma espécie de atividade, e assim se gastou; isto Não acontece com Odradek. descerá a escada arrastando fiapos frente aos pés de meus filhos e dos filhos de meus filhos? Não faz mal à ninguem mas a idéia de quepossa sobreviver-me é quase dolorosa para mim.

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Xilogravura: arte popular


Xilogravura

por Carolina Lopes

A xilogravura é um processo de gravação em relevo que utiliza a madeira como matriz e possibilita a reprodução da imagem gravada sobre papel ou outro suporte adequado.
Para fazer uma xilogravura é preciso uma prancha de madeira e uma ou mais ferramentas de corte, com as quais se cava a madeira de acordo com o desenho planejado.
É preciso ter em mente que as áreas cavadas não receberão tinta e que a imagem vista na madeira sairá espelhada na impressão; no caso de haver texto, grava-se as letras ao contrário.
Depois de gravada, a matriz recebe uma fina camada de tinta espalhada com a ajuda de um rolinho de borracha. Para fazer a impressão, basta posicionar uma folha de papel sobre a prancha entintada e fazer pressão manualmente, esfregando com uma colher ou mecanicamente, com a ajuda de uma prensa.
Como podemos constatar, é uma técnica bastante simples e barata; por isso se presta tão bem às ilustrações das capas dos folhetos de cordel. Para termos uma idéia desta simplicidade, basta saber que os gravadores nordestinos fabricam suas próprias ferramentas de corte com pregos e varetas de guarda-chuva, por exemplo, para conseguirem diferentes efeitos no desenho.

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Prelúdio à fruição (André Luiz Oliveira)

 

A inspiração é pouca e a fome muita

Não desejo as frases, não as sinto minhas.

Não perderei tempo valorando os vibratos das rimas,

Iludir-me atribuindo as variáveis da equação cansada da métrica.

Uma necessidade carnal me consome o sentimento das coisas

Que não posso tragar e mastigar.

Quero desobrigar-me da crítica caçadora de sintaxes,

Sentir o meio-dia adiantado aliciar meu estômago

Lubrificar a organicidade maquínica do meu intestino

Com farinha, feijão, um pedaço de carne, suco feito às pressas

Ou água mesmo, e sua limpidez duvidosa.

Abastecido, mandarei às favas os bons tons e a cerimônia retórica

Que bucho vazio não vinga poesia colorida.



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segunda-feira, 13 de outubro de 2008

O velho e bom Quino


domingo, 12 de outubro de 2008

A pintura abstrata de Miró


quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Eleições: gênese e vício (André Luiz Oliveira)

 

Poderes criam sujeições

Sujeições criam rebanhos

Rebanhos criam uniformidades

Uniformidades criam ordinários

Ordinários criam ordens

Ordens criam punições

Punições criam culpados

Culpados criam medos

Medos criam resignações

Resignações criam reações

Reações criam privilégios

Privilégios criam hierarquias

Hierarquias criam pobrezas

Pobrezas criam famintos

Famintos criam pedintes

Pedintes criam expectativas

Expectativas criam oportunidades

Oportunidades criam promessas

Promessas criam ilusões

Ilusões criam ignorâncias

Ignorâncias criam eleitores

Eleitores criam eleitos

Eleitos criam segregações

Segregações criam deformidades

Deformidades criam marginais

Marginais criam subterfúgios

Subterfúgios criam descompassos

Descompassos criam jurisprudências

Jurisprudências criam leis

Leis criam temeridades

Temeridades criam viciados

Viciados [re]criam o ciclo

Que destrói a potência da vida.



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sábado, 27 de setembro de 2008

Editais a serem lançados pela SECULT - BA

LISTA DE EDITAIS QUE AGUARDAM O PARECER DA PGE - PROCURADORIA GERAL DO ESTADO E COM PREVISÃO DE LANÇAMENTO ATÉ A SEGUNDA SEMANA DE SETEMBRO:

Edição de Obras Literárias de Autores Baianos
Bibliotecas Comunitárias
Incentivo a Leitura
Editoras para Edição de Coleção de Obras de Autores Baianos
Pesquisas de Escritores BaianoS
Edição de Livros sobre Memória
Preservação, Dinamização e Difusão de Acervos Pertencentes a Museus Privados e Comunitários no Estado da Bahia
Apoio à Elaboração de Projetos de Preservação do Patrimônio no Estado da Bahia
Apoio à Realização de Projetos de Valorização do Patrimônio no Estado da Bahia
Intervenções Urbanas
Projeto de Formação e Qualificação Artística
Apoio ao Circo
Cultura e Direitos Humanos
Circulação Dança
Circulação Teatro
Circulação Música
Apoio à Produção de Programas Radiofônicos de Poesia
Apoio ao Desenvolvimento de Roteiros

(Fonte: SECULT - BA)

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Fran-Góes (por Ecristio Raislan)




Vinho Zurrapo e Moscas Talentosas (por Ecristio Raislan)

Miraldo cuspiu os poucos pedaços da maçã que mastigara, olhou o verme, que acabara de perceber entre seus dentes, contorcendo-se em derradeira agonia, falou abruptamente um palavrão que pouco usava e saiu. Meteu-se na rua procurando sossego, procurando satisfação, talvez sexo. E não, desta vez não seria com uma puta barata! Miraldo mal se lembrava de sua última conquista... Desta vez não é o que sempre pensa, nem o que sempre pensava, era o que sempre quis pensar. Viu numa esquina com cheiro de mijo, uma moça diferente, um olhar diferente, um semblante diferente, uma genitália diferente, uma bolsa girando em sentido anti-horário com uma maquiagem pesada, fria e fraca... Não!!! Desta vez não. Picou todas as suas lembrança, picou todos os seus anseios, picou todas as suas inverdades, picou sua insegurança, picou seu instinto verme de viver como sempre pica. E pica é pra ser usada...
Miraldo acordou em pedaços na manhã que o massacrava. O gosto azedo em sua boca, a ânsia de vômito que a cachaça vagabunda particularmente lhe causava, olhou o teto fixamente, olhou a cor branca do teto fixamente, olhou a rachadura na cor branca do teto ao lado do ventilador a procura de algo que ventilasse sua dor de cabeça, desceu uma pouco a vista. Viu uma garota deitada ao seu lado. O mais novo fruto da corrupção de sua noite fosca...
Miraldo acendeu um cigarro alvoroçado, ascendeu seu ânimo malogrado, percebeu seu coração descompassado e saiu nu, sem nenhuma roupa nos seus princípios, apenas a vontade e o desejo imperavam, o desejo o impulsionava, o desejo... o desejo tinha que ficar para depois. Pegou o dinheiro em seu criado mudo... Todo em moedas. Gostava de pegar suas putas em moedas. Gostava do mito urbano da ponta de esquina e pagamento em moedas. Despediu-se do amor de sua vida da última noite com uma rosa branca e um beijo na mão...
Miraldo vestiu sua batina atrasado e foi celebrar sua missa do Domingo.

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

poesia de natal (andré luiz oliveira)

o que daria um noel preto
à guisa de visita
no fechado da estória alva
senão acabar com a graça
pantomina do natal?
sem o brilho oxidante,
com o odor do esforço concreto,
mitigante,
as marcas da última surra; truão velhaco:
o noel exemplar seria despido na sua arrogância
um tremendo idiota.

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Poema sem graça (Wilton Oliveira)

carros de som vomitam
na cara da cidade
o peso da tradição:
o tinir das correntes,
os estalar dos chicotes,
a ignorância da censura,
a captura do desejo,
a negação do povo.
a afirmação de uma
história que não é a nossa.

(inspirado nas eleições de Entre Rios)

domingo, 21 de setembro de 2008

sexta-feira, 19 de setembro de 2008

Pescadores (Cristopher Moura)

Navegam sua tristeza em velas surradas
O salitre alimentará suas esperanças
Nem que seja com o amargo sal.

Viajam sempre seus pesadelos
A dor sempre nutre o desesperado
O amor é mero analgésico.

Enlouqueceram na taverna
Venenos dilatam o desejo
Mas o cansaço entope as veias.

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Esse livro é uma raridade. Trata-se de uma entrevista concedida por Lula ao filósofo e psicanalista Félix Guattari, em 1982.
Bumba-meu-boi de Serraria, distrito de Entre Rios - Ba: a cultura popular sobrevivendo entre o mercado e a falta de políticas públicas para a cultura no município.

terça-feira, 16 de setembro de 2008

Eleições (Ieshua Pele Escura)

O votante, sem saber por que votava. Até que um cético perguntou: “o que te faz agir deste modo?”. O mesmo que faz todo desesperado agir: a necessidade, responde o votante. Inquieto com a situação o cético questiona “o que você necessita?”. “Não percebe? Necessitamos de trabalho pra comer; dirigentes para nos dirigir; propagandas para nos convencer; verdades para acreditar...” descreve melancólico o votante. Num surto de raiva o cético grita aos ventos “mas o que fazer da vontade? Não percebe que tantas necessidades foram criadas em nome da vontade, e que você perverteu este precioso instinto ao votar? Enquanto espera que tuas necessidades sejam saciadas por algo fora de você, teu corpo definha num abismo de desespero e a morte dança nas esquinas convidando – te a se entregar...”. Tudo bem, retruca o votante, se amanhã meu emprego estiver garantido. Isto se houver amanhã pra você...imagina silencioso o cético.

Fran-Góes (tiras de Ecristio Raislan)


O nome da personagem é Fran-Góes, inspirado em Pangloss de Cândido, de Voltaire. Ao invés de otimista, como era o filósofo de Voltaire, ele é pessimista, cínico, vagabundo, sarcástico, sádico... nem eu gosto dele, mas é um cara legal... (observações do autor)

Nordestes (Wilton Oliveira)

Cearás, Bahias, Pernambucos,
territórios, vidas, desejos.
Entre eles: a ânsia do sorriso,
a beleza do novo e
a felicidade dos encontros.

Viúva de Paulo Freire escreve carta de repúdio à Revista Veja

O que estão ensinando a ele? De autoria de Monica Weinberg e Camila Pereira, ela foi baseada em pesquisa sobre qualidade do ensino no Brasil. Lá pelas tantas há o seguinte trecho:'Muitos professores brasileiros se encantam com personagens que em classe mereceriam um tratamento mais crítico, como o guerrilheiro argentino Che Guevara, que na pesquisa aparece com 86% de citações positivas, 14% de neutras e zero, nenhum ponto negativo. Ou idolatram personagens arcanos sem contribuição efetiva à civilização ocidental, como o educador Paulo Freire, autor de um método de doutrinação esquerdista disfarçado de alfabetização.Entre os professores ouvidos na pesquisa, Freire goleia o físico teórico alemão Albert Einstein, talvez o maior gênio da história da humanidade.Paulo Freire 29 x 6 Einstein. Só isso já seria evidência suficiente de que se está diante de uma distorção gigantesca das prioridades educacionais dos senhores docentes, de uma deformação no espaço-tempo tão poderosa, que talvez ajude a explicar o fato de eles viverem no passado'.Curiosamente, entre os especialistas consultados está o filósofo Roberto Romano, professor da Unicamp. Ele é o autor de um artigo publicado na Folha, em 1990, cujo título é Ceausescu no Ibirapuera. Sem citar o Paulo Freire, ele fala do Paulo Freire. É uma tática de agredir sem assumir. Na época Paulo, era secretário de Educação da prefeita Luiza Erundina.
Diante disso a viúva de Paulo Freire, Nita, escreveu a seguinte carta de repúdio:
'Como educadora, historiadora, ex-professora da PUC e da Cátedra Paulo Freire e viúva do maior educador brasileiro PAULO FREIRE -- e um dos maiores de toda a história da humanidade --, quero registrar minha mais profunda indignação e repúdio ao tipo de jornalismo, que, a cada semana a revista VEJA oferece às pessoas ingênuas ou mal intencionadas de nosso país. Não a leio por princípio, mas ouço comentários sobre sua postura danosa através do jornalismo crítico. Não proclama sua opção em favor dos poderosos e endinheirados da direita, mas , camufladamente, age em nome do reacionarismo desta.Esta vem sendo a constante desta revista desde longa data: enodoar pessoas as quais todos nós brasileiros deveríamos nos orgulhar. Paulo, que dedicou seus 75 anos de vida lutando por um Brasil melhor, mais bonito e mais justo, não é o único alvo deles. Nem esta é a primeira vez que o atacam. Quando da morte de meu marido, em 1997, o obituário da revista em questão não lamentou a sua morte, como fizeram todos os outros órgãos da imprensa escrita, falada e televisiva do mundo, apenas reproduziu parte de críticas anteriores a ele feitas.A matéria publicada no n. 2074, de 20/08/08, conta, lamentavelmente com o apoio do filósofo Roberto Romano que escreve sobre ética, certamente em favor da ética do mercado, contra a ética da vida criada por Paulo. Esta não é, aliás, sua primeira investida sobre alguém que é conhecido no mundo por sua conduta ética verdadeiramente humanista.Inadmissivelmente, a matéria é elaborada por duas mulheres, que, certamente para se sentirem e serem parceiras do “filósofo” e aceitas pelos neoliberais desvirtuam o papel do feminino na sociedade brasileira atual. Com linguagem grosseira, rasteira e irresponsável, elas se filiam à mesma linha de opção política do primeiro, falam em favor da ética do mercado, que tem como premissa miserabilizar os mais pobres e os mais fracos do mundo, embora para desgosto deles, estamos conseguindo, no Brasil, superar esse sonho macabro reacionário.Superação realizada não só pela política federal de extinção da pobreza, mas, sobretudo pelo trabalho de meu marido – na qual esta política de distribuição da renda se baseou - que demonstrou ao mundo que todos e todas somos sujeitos da história e não apenas objeto dela. Nas 12 páginas, nas quais proliferam um civismo às avessas e a má apreensão da realidade, os participantes e as autoras da matéria dão continuidade às práticas autoritárias, fascistas, retrógradas da cata às bruxas dos anos 50 e da ótica de subversão encontrada em todo ato humanista no nefasto período daDitadura Militar.Para satisfazer parte da elite inescrupulosa e de uma classe média brasileira medíocre que tem a Veja como seu “Norte” e “Bíblia”, esta matéria revela quase tão somente temerem as idéias de um homem humilde, que conheceu a fome dos nordestinos, e que na sua altivez e dignidade restaurou a esperança no Brasil. Apavorada com o que Paulo plantou, com sacrifício e inteligência, a Veja quer torná-lo insignificante e os e as que a fazem vendendo a sua força de trabalho, pensam que podem a qualquer custo, eliminar do espaço escolar o que há de mais importante na educação das crianças, jovens e adultos: o pensar e a formação da cidadania de todas as pessoas de nosso país, independentemente de sua classe social, etnia, gênero, idade ou religião.Querendo diminuí-lo e ofendê-lo, contraditoriamente a revista Veja nos dá o direito de concluir que os pais, alunos e educadores escutaram a voz de Paulo, a validando e praticando. Portanto, a sociedade brasileira está no caminho certo para a construção da autêntica democracia. Querendo diminuí-lo e ofendê-lo, contraditoriamente a revista Veja nos dá o direito de proclamar que Paulo Freire Vive!
São Paulo, 11 de setembro de 2008Ana Maria Araújo Freire'.

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

O Surrealismo de Escher


Artes digitais, Arnaldo Antunes ( Hand-Made 5 - 1998)


Meus amores (André Luiz)

Ah, meus amores, quantos erros certos!
Quanta pele de carne beijada sem prazer
O dedo menor sempre levantado
Procurando a incerteza de um olhar vesgueiro.

Se o dragão preso em mim
Vos pedissem água, seria pra vos matarem afogadas
Em cinzas de qualidades duvidosas
Mas eu sou lebre: leve e branda.

Sou ser, sei ser, afinal, impávido
Entre o toque e o medo, há um lugar cego e intersticial
Por onde a leveza do amor escapa virgem
Eu então sei, desejos, entrementes afetos.

São asas do mesmo sol, brilham em si
São beijos de mesma cor, descolorindo
São letras de aquarela, e seus quilates
São vidas que se cruzaram, eu sendo o eixo.

Ah, meus amores, estou voltando pra mim!
A estrada avante, tem seus codinomes
E me leva até onde estão os nossos sonhos
São diamantes, e minha alegria cintila alto

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Revolucionário Bamba (Ieshua Pele Escura)

No samba político,
O pandeiro é a bomba
A explodir em sons sincronizados,
Os tímpanos acostumados.
O cavaco é a metranca
Que dispara acordes dissonantes,
Ferindo o ritmo lento dos inertes,
Fazendo jorrar no ar todos os coloridos confetes.
O reco-reco é a espada
Que, marcando o compasso,
Golpeia a boa ordem do passado,
Tornando o agora o ritmo do presente.
A viola é o mapa
Que, com suas melodias,
Indica os caminhos originais da alegria,
Trazendo à tona o sorriso como escudo da fantasia!
Os passos, o movimento corporal
Que, com ginga, escapam dos ataques externos,
Com o compromisso estético do eterno,
Transfigurando o corpo em versos.
O morro é o palco (novo quilombo),
Onde o revolucionário bamba cria
O estilo de vida do corpo liberto,
Nos domingos de cerveja e sexo...
Combatendo pela vida em diferença!

Notícias do Vaticano

Sapo verde está segurando nas mãos uma caneca de cerveja e um ovo.Obra 'fere os sentimentos religiosos de muitas pessoas', diz Vaticano.

Um museu italiano desafiou o papa Bento 16 e se recusou a remover uma escultura de arte contemporânea que mostra um sapo verde crucificado, segurando nas mãos uma caneca de cerveja e um ovo. O Vaticano considerou a peça uma blasfêmia.
A maioria dos membros do conselho do museu Museion, na cidade de Bolzano, decidiu que o sapo é uma obra de arte e continuará na exposição.
Chamada de "Zuerst die Füsse" (primeiro os pés), o sapo usa um pano verde na área da cintura e está pregado pelas mãos e pelos pés como Jesus Cristo. Uma língua verde pende para fora de sua boca.
O trabalho do artista alemão Martin Kippenberger, morto em 1997, foi exposto na Tate Modern e na Galeria Saatchi, em Londres, e na Bienal de Veneza. Retrospectivas da obra do artista estão programadas para Los Angeles e Nova York.
Autoridades do museu localizado na região ao norte de Alto Ádige disseram que o artista considerava a peça uma ilustração do medo sentido pelos seres humanos.
O papa, que nasceu na Alemanha e recentemente passou suas férias em um lugar perto de Bolzano, obviamente não concorda.
Em nome do papa, o Vaticano escreveu uma carta de apoio a Franz Pahl, líder do governo daquela região e uma das vozes contrárias à escultura.
"Claramente, não se trata de uma obra de arte, mas de uma blasfêmia e de um degradante pedaço de lixo que deixou muitas pessoas indignadas", afirmou Pahl à Reuters, por telefone, enquanto a diretoria do museu realizava uma reunião.
Na carta, o Vaticano disse que a obra "fere os sentimentos religiosos de muitas pessoas que vêem na cruz o símbolo do amor divino".
Fonte: G1

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

um conto p o blog e sua cena

wilton, além de enviar este conto p o blog, saiba que vou divulgá-lo aqui na ufpe p uma galera q eu articulo, valeu!!!!!!
boa negão, vc é do caralho!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!anarquia

Vincent, curta-metragem de Tim Burton


Essa é a cena inicial do macabro e surpreente Vincent, curta-metragem de Tim Burton. Vale a pena ver.
"A metamorfose", de Kafka. Adaptação para HQ de Peter Kuper.

Mapas da alcova (Jairo de Oliveira Ramos)

Era final de março e Marcílio sentia o outono rabiscar seus primeiros sinais nas folhas das árvores, ao mesmo tempo em que uma forte ventania adentrava o seu quarto levando aos ares páginas de livros, restos de muriçocas mortas e a sua existência num rodamoinho que o arremessou no meio de uma guerra sem fim. Precisamente, no campo de batalha das alamedas florais.

Tiros, muitos tiros. Canhões e tanques de guerra arremessando estilhaços de corpos pelo campo enlameado de sangue e púrpura das vísceras dos corações. Para onde vou? Em que trincheira me esconder?Em que alvo devo mirar? Pensava o jovem.

O seu instante de dúvida parecia soar como um erro na batalha campal. Sem mais hesitar fez-se a disparada. Correu... Correu enquanto despendia do céu bombas de lacrimogêneo... correu até faltar o fôlego, até faltar o tônus muscular para as pernas.Os pés carregados de lama e o corpo esquálido dialogava com a planície movediça e carregadas de edifícios vazios. Ainda recuperando o ar aos pulmões olhou para os lados, viu alguém acenar, a gritar desesperadamente. Parecia um homem com capa vermelha e chapéu de veludo, mas não conseguia distinguir bem a face por conta da neblina. O que ele tanto enuncia?Não estou escutando! Marcílio havia ensurdecido com os rojões de granada arremessados ao solo durante sua disparada.

Se rastejando pela lama encharcada de espinhos, o resmundo ia ao encontro deste homem. Rastejava. Os espinhos brechavam sua carne, mas ele insistia, olhou para o alto: o céu era cinza e o fez recordar de um mapa que guardava em seu bolso. Parou um pouco. Retirou o mapa e pôs-se a decifrar... Pensou: Talvez aqui possa encontrar o túnel que me tire deste amontoado de arames farpados. Num gesto de riso, sim, Marcílio ria soberbamente das linhas que se cruzam, embaralham, bifurcam e se fiam na cartografia que está em suas mãos...

Hei!Hei!Soldado! Venha para cá!- falava o homem. O jovem, então, guarda o mapa entre os dentes. Olha ao redor e observa transeuntes a olharem vitrines pelas calçadas e jantando nos restaurantes.Hei!Hei! Soldado!Vamos!
O combatente solitário mesmo com a audição perdida acredita que os gestos daquele homem de chapéu e capa realmente o estejam chamando. Neste momento, com uma fadiga enorme no corpo tira o papel dos dentes, olha-o rapidamente e agora vê quadrados no mapa. Guarda o papel no bolso esquerdo do blusão, enquanto à sua frente crianças soltam balões pelos ares...

Enfim tu chegaste! Já era tempo!Sente-se e respire com calma! Diz o senhor que tanto acenava para Marcílio que agora confirma a tua capa vermelha e teu chapéu de veludo.

O jovem extenuado observa os gestos do senhor e senta na cadeira, bebe uma xícara de café amargo e vê do outro lado do vidro que dividia a sala em que estava guilhotinas em série descarrilhando lâminas, e pós a queda do metal afiado sentiu no tremular do piso algo que terminara de cair ao chão.

Não se apavore!...Quero apenas o mapa que tu trazes e lhe abro a porta do túnel que você tanto procura.

Estático, o combatente entende o que aquele homem tanto deseja. Assim, com apenas um olhar indica onde se encontra tal cartografia. O senhor da capa vermelha com um pequeno riso retira o mapa do bolso da jaqueta... Uma porta se abre... Uma escada se revela na escuridão e o solitário desce por ela. Antes de fechar a porta o homem fala algo indiscernível para Marcílio em vias de desmaio sob a cama a sua frente...

Marcílio percebe passos no corredor, a pegada aumenta sua intensidade, seu peso e som vão delineando-se em seus sentidos... Quem será? Pensa ele enquanto pisca os olhos com uma leve brisa que adentra seu espaço de dormida. Uma sombra aparece na soleira da porta do quarto. Parece alguém com capa, chapéu e uma carta no bolso. Um frio toma o seu corpo e arrepios contaminam sua pele. Toc... Toc... Toc...

Sem levantar da cama, fica envolto com o cobertor encharcado de suor. Toc... Toc... Toc... Ele tenta se levantar, mas ainda não se refortaleceu da batalha das Alamedas. Sabe que alguém o chama que precisa abrir a porta, pressente que é uma voz rouca que não lhe é estranha te dizendo: vim lhe trazer uma xícara de café adoçado.

Marcílio respira fundo, olha para a janela que treliça com o vento, trazendo consigo folhas mortas e insetos para alcova. Vim te ver, não vai abrir a porta? Ao ver a fechadura se movendo, percebeu seu peito pulsar lentamente com um fluir frio do seu sangue se disseminando por completo pelo corpo. Assim mesmo, ameaçou um movimento, mas o nublado negrume entrara arranhando a parede com marcas de lama e fragmentos de pétalas nas mãos, deixando cair a xícara de café sob um corpo que jazia na cama juntamente com um mapa pintado de cinza.

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Poema de uma matilha investigada (Cristopher Moura)

A amargura deles era saber que não os viam
Isso lhes era quase insuportável
Pior do que serem enterrados vivos.

De resto, não se importavam
Viviam enfestados de pêlos
E amavam seus inimigos.

Gostavam de serem enterrados no concreto
Além disso, sentiam com satisfação a umidade da infiltração no concreto
Tudo se tornava um livro de memórias que se atualizava a cada instante.

sábado, 6 de setembro de 2008

poema

verbo sentido
por: andré luiz oliveira
por favor, não me molhe tuas lágrimas
doce; por que tanta incidência nesse corpo próximo (olhe), pergunta
trôpego e não...
uma palavra mentirosa vilipendiaria o senso
conexo e causa,
e estaria à órbita de um qualquer sozinho,
dispondo peças num jogo chamado mundo,
a liberdade repousante, dois pontos
esperando afinal a partícula fonemática.
o verso e o reverso de um rosto vivem a poça d'água
por que não elimina a placenta, outra pergunta
sintaxe: asfixia de uma imagem em desatenção,
discurso e forma; cortei e não diz onde pousaram os vermes,
nem escárnio, nem dor, odor
não, pare, exclamação, comece a parar de pensar,
deixa os sons se constituírem
até a balbúrdia fônica sangrar na beleza do absurdo
significa e devota o mesmo início
senão experimenta...
se aproxima, tece dois dedos de prosa ecológica comigo,
esquece que tem medo por um pouco
as fulgurações aparecerão aos corpos
como ao insano uma dose de egoísmo e único prazer
de verbo e sentido, ponto


sábado, 23 de agosto de 2008

Uma festa capital


aos leitores de franz kafka



Três carrapatos e uma mutuca planejavam a enésima festa "precisamos de 30 formigas pro trabalho pesado, bestas pra dividir tarefas e parte do lucro, prender o rabo de leões pra não assanhar formigueiro nem provocar o tribunal, seduzir autoridades pros apoios complementares, acolher a preços de mercado cinco mil participantes, garantir o canto da cigarra..." quando um pensamento selvagem, vindo da cabeça da mutuca, invadiu a sala dos coqueiros, - alguma coisa me diz que sangue de macaco tem veneno – que bobagem, retrucaram ao mesmo tempo os carrapatos; - de onde vem nossa robustez, me diga?! – é que vocês não voam pra sondar o tempo, medir as distâncias, farejar corpos em movimento..., ponderava a mutuca; - carrapato não faz zoada, na dá bandeira, gruda, e pronto!, insistia um dos carrapatos cabeça dura., - entre nós, agora identifico, não há só uma diferença de natureza, mas de método, politizava a mutuca; - mas que chegam a mesma síntese: sangue, sangue, dinheiro, dinheiro!, misturava as bolas o carrapato mais ganancioso. Pra não perdurar o impasse nem estragar a festa, o último carrapato sai de seu silêncio e impõe: deixemos de lado qualquer pensamento selvagem e voltemos a trabalhar maquinalmente feito as formigas e as bestas de carga. Dominando intelectualmente toda essa trama os leões sem marx apenas moviam as suas caudas pra lá e pra cá, indiferentes...




conto n.1 de osmar moreira


quinta-feira, 7 de agosto de 2008

verbo pedir

tece vida teus visgos... e confunde os sentidos.
extrai do pão sobre a mesa mal posta,
do café da manhã nublada,
o gosto insosso de todo-dia.

faz da vertigem do cálculo matemático,
da economia dos gestos,
um déficit irrecuperável ao seu favor.

no sonho, permanece em suspenso...
filtra o sentido das filigramas da trama
que preenche o sono dormido.

do cumprimento aos conhecidos,
desobriga a cerimônia;
faz apenas de afecções olhares convergirem.

mas não deixa aquela flor morrer afogada
retira-lhe a superabundância
e contorna com nitidez seu croma fácil.

promove quem sabe a alegria em mim
ao deitar-me aos ouvidos em que direção
[nascerá o sol
daquele riso de que não posso esquecer।

por André Luiz Oliveira

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

Põe um aparelho no seu dente,/Coloca a argola na orelha,/Depois põe esse piercing na tua língua,/Injeta silicone no teu peito,/Faz uma porção de tatuagem,/Encosta na tua pele ferro quente,/Imprime no teu corpo uma palavra,/E põe um parafuso na cabeça./Faz uma trepanação no cérebro,/Puxa, corta, rasga e aperta./O teu sexo, o teu sexo./Faz um pieling, põe um marca-passo,/Se mutila todo e fica vesgo,/Introduz um córneo na tua testa /E põe um parafuso na cabeça.

Skylab

domingo, 3 de agosto de 2008

A moça tecelã, de Marina Colasanti

Acordava ainda no escuro, como se ouvisse o sol chegando atrás das beiradas da noite. E logo sentava-se ao tear.Linha clara, para começar o dia. Delicado traço cor da luz, que ela ia passando entre os fios estendidos, enquanto lá fora a claridade da manhã desenhava o horizonte.
Depois lãs mais vivas, quentes lãs iam tecendo hora a hora, em longo tapete que nunca acabava.Se era forte demais o sol, e no jardim pendiam as pétalas, a moça colocava na lançadeira grossos fios cinzentos do algodão mais felpudo. Em breve, na penumbra trazida pelas nuvens, escolhia um fio de prata, que em pontos longos rebordava sobre o tecido. Leve, a chuva vinha cumprimentá-la à janela.Mas se durante muitos dias o vento e o frio brigavam com as folhas e espantavam os pássaros, bastava a moça tecer com seus belos fios dourados, para que o sol voltasse a acalmar a natureza.Assim, jogando a lançadeira de um lado para outro e batendo os grandes pentes do tear para frente e para trás, a moça passava os seus dias.Nada lhe faltava. Na hora da fome tecia um lindo peixe, com cuidado de escamas. E eis que o peixe estava na mesa, pronto para ser comido. Se sede vinha, suave era a lã cor de leite que entremeava o tapete. E à noite, depois de lançar seu fio de escuridão, dormia tranqüila.Tecer era tudo o que fazia. Tecer era tudo o que queria fazer.Mas tecendo e tecendo, ela própria trouxe o tempo em que se sentiu sozinha, e pela primeira vez pensou em como seria bom ter um marido ao lado.Não esperou o dia seguinte. Com capricho de quem tenta uma coisa nunca conhecida, começou a entremear no tapete as lãs e as cores que lhe dariam companhia. E aos poucos seu desejo foi aparecendo, chapéu emplumado, rosto barbado, corpo aprumado, sapato engraxado. Estava justamente acabando de entremear o último fio da ponto dos sapatos, quando bateram à porta.Nem precisou abrir. O moço meteu a mão na maçaneta, tirou o chapéu de pluma, e foi entrando em sua vida.Aquela noite, deitada no ombro dele, a moça pensou nos lindos filhos que teceria para aumentar ainda mais a sua felicidade.E feliz foi, durante algum tempo. Mas se o homem tinha pensado em filhos, logo os esqueceu. Porque tinha descoberto o poder do tear, em nada mais pensou a não ser nas coisas todas que ele poderia lhe dar.— Uma casa melhor é necessária — disse para a mulher. E parecia justo, agora que eram dois. Exigiu que escolhesse as mais belas lãs cor de tijolo, fios verdes para os batentes, e pressa para a casa acontecer.Mas pronta a casa, já não lhe pareceu suficiente.— Para que ter casa, se podemos ter palácio? — perguntou. Sem querer resposta imediatamente ordenou que fosse de pedra com arremates em prata.
Dias e dias, semanas e meses trabalhou a moça tecendo tetos e portas, e pátios e escadas, e salas e poços. A neve caía lá fora, e ela não tinha tempo para chamar o sol. A noite chegava, e ela não tinha tempo para arrematar o dia. Tecia e entristecia, enquanto sem parar batiam os pentes acompanhando o ritmo da lançadeira.Afinal o palácio ficou pronto. E entre tantos cômodos, o marido escolheu para ela e seu tear o mais alto quarto da mais alta torre.— É para que ninguém saiba do tapete — ele disse. E antes de trancar a porta à chave, advertiu: — Faltam as estrebarias. E não se esqueça dos cavalos!Sem descanso tecia a mulher os caprichos do marido, enchendo o palácio de luxos, os cofres de moedas, as salas de criados. Tecer era tudo o que fazia. Tecer era tudo o que queria fazer.E tecendo, ela própria trouxe o tempo em que sua tristeza lhe pareceu maior que o palácio com todos os seus tesouros. E pela primeira vez pensou em como seria bom estar sozinha de novo.Só esperou anoitecer. Levantou-se enquanto o marido dormia sonhando com novas exigências. E descalça, para não fazer barulho, subiu a longa escada da torre, sentou-se ao tear.
Desta vez não precisou escolher linha nenhuma. Segurou a lançadeira ao contrário, e jogando-a veloz de um lado para o outro, começou a desfazer seu tecido. Desteceu os cavalos, as carruagens, as estrebarias, os jardins. Depois desteceu os criados e o palácio e todas as maravilhas que continha. E novamente se viu na sua casa pequena e sorriu para o jardim além da janela.
A noite acabava quando o marido estranhando a cama dura, acordou, e, espantado, olhou em volta. Não teve tempo de se levantar. Ela já desfazia o desenho escuro dos sapatos, e ele viu seus pés desaparecendo, sumindo as pernas. Rápido, o nada subiu-lhe pelo corpo, tomou o peito aprumado, o emplumado chapéu.
Então, como se ouvisse a chegada do sol, a moça escolheu uma linha clara. E foi passando-a devagar entre os fios, delicado traço de luz, que a manhã repetiu na linha do horizonte.

quinta-feira, 31 de julho de 2008

Tapa na Pantera, curta de Esmir Filho, Mariana Bastos e Rafael Gomes

Meus caros,

Segue - abaixo - alguns dos textos que gosto pelas possibilidades de sentidos que eles encerram. O primeiro, diz da arte de educar e é sintese do projeto "Chão da escola", o qual faço parte. O segundo, um dos textos mais incríveis de Kafka, um verdadeiro rizoma, como diz Gilles Deleuze. O último, uma leitura ativa do Mito de Sísifo pelo grande Camus. Proponho a leitura desses textos e seus posteriores comentários, como diz um amigo: façam a estrela do pensamento bailar.
Abraço,

Wilton

O Mito de Sísifo
Albert Camus

Os deuses condenaram Sísifo a incessantemente rolar uma rocha até o topo de uma montanha, de onde a pedra cairia de volta devido ao seu próprio peso.Eles pensaram, com alguma razão, que não há punição mais terrível do que o trabalho inútil e sem esperança.Acreditando em Homero, Sísifo foi o mais sábio e prudente dos mortais. Entretando, de acordo com outra tradição, ele foi designado a praticar a profissão de salteador.Eu não vejo nenhuma contradição nisto.
As opiniões diferem quanto às razões pelas quais ele se tornou o inútil trabalhador do subterrâneo.Para começar, ele é acusado de uma certa frivolidade a respeito dos deuses. Ele roubou seus segredos. Egina, a filha de Esopo, foi raptada por Júpiter. O pai ficou chocado com aquele desaparecimento e queixou-se a Sísifo.Ele, que sabia do seqüestro, ofereceu-se para contar o que sabia com a condição de que Esopo desse água à cidadela de Corinto. Ele a preferiu a bênção da água ao invés dos raios celestiais.Ele foi punido por isso no inferno.
Homero nos conta também que Sísifo acorrentou a Morte. Plutão não pôde suportar a visão do seu império abandonado e silencioso. Ele despachou o Deus da Guerra, que libertou a Morte das mão de seu conquistador.É dito que Sísifo, estando próximo à morte, imprudentemente quis testar o amor de sua esposa. Ele ordenou a ela jogar seu corpo insepulto no meio da praça pública. Sísifo acordou no inferno. E lá, irritado por aquela obediência tão contrária ao amor humano, ele obteve de Plutão permissão para retornar à Terra para punir sua esposa. Mas quando ele viu novamente a face do seu mundo, gozou a água e o sol, as pedras quentes e o mar, não quis mais retornar à escuridão infernal.Chamados, sinais de raiva, avisos foram de nenhuma utilidade. Ele viveu muitos anos mais diante da curva do golfo, do mar brilhante, e dos sorrisos da Terra. Um decreto dos deuses foi necessário. Mercúrio veio e agarrou o homem atrevido pelo colarinho, e, arrancando-o de seus prazeres, conduziu-o forçosamente de volta ao inferno, onde sua rocha estava pronta para ele.
Você já captou que Sísifo é o herói absurdo. Ele o é, tanto pelas suas paixões quanto pela sua tortura.Seu desdém pelos deuses, seu ódio pela morte e sua paixão pela vida fizeram com que ele recebesse aquele inexprimível castigo no qual todo seu ser se esforça para executar absolutamente nada. Este é o preço que deve ser pago pelas paixões neste mundo. Nada nos é dito sobre Sísifo no inferno. Mitos são feitos para a imaginação soprar vida neles. Quanto a este mito, vê-se simplesmente todo o esforço de um corpo esforçando-se para levantar a imensa pedra, rolá-la e empurrá-la ladeira acima centenas de vezes; vê-se o rosto comprimido, a face apertada contra a pedra, o ombro que escora a massa recoberta de terra, os pés apoiando, o impulso com os braços estendidos, a segurança totalmente humana de duas mãos cobertas de terra. Ao final deste longo esforço medido pelo espaço e tempo infinitos, o objetivo é atingido. Então Sísifo observa a rocha rolar para baixo em poucos segundos, em direção ao reino dos mortos, de onde ele terá que empurrá-la novamente em direção ao cume. Ele desce para a planície. É durante este retorno, esta pausa, que Sísifo me interessa.
Um rosto que trabalhou tão próximo à pedra, já é a própria pedra!Eu vejo aquele homem descendo com um passo muito medido, em direção ao tormento que ele sabe que nunca terá fim. Aquela hora, que é como um momento de respiração, que sempre voltará assim como seu sofrimento; é a hora da consciência. Em cada um destes momentos, quando ele deixa as alturas e gradualmente mergulha no covil dos deuses, ele é superior ao seu destino. Ele é mais forte do que sua pedra. Se este mito é trágico, é porquê seu herói é consciente. Onde estaria realmente sua tortura se a cada passo a esperança de prosperar o sustentasse ? O trabalhador de hoje trabalha todos os dias de sua vida nas mesmas tarefas, e seu destino não é menos absurdo. Mas é trágico apenas nos raros momentos em que ele toma consciência. Sísifo, proletário dos deuses, impotente e rebelde, sabe a total extensão de sua miserável condição: é nisso que ele pensa durante sua descida. A lucidez que deveria constituir sua tortura ao mesmo tempo coroa sua vitória. Não há destino que não possa ser superado pelo desprezo. Se desta maneira, a descida é realizada às vezes com tristeza, também pode ser realizada com alegria. Esta palavra não é exagerada. Novamente, eu imagino Sísifo retornando em direção à sua rocha; o sofrimento estava no início. Quando as imagens da Terra aderem-se com muita força à memória, quando o chamado da felicidade torna-se muito insistente, acontece da melancolia aparecer no coração do homem: esta é a vitória da rocha, esta é a própria rocha. O sofrimento sem limites é muito pesado para se suportar. Estas são nossas noites de Gethsêmane. Mas verdades esmagadoras perecem quando tornam-se conhecidas. Assim, Édipo no início obedece ao destino sem saber dele. Mas a partir do momento em que ele sabe, sua tragédia inicia. Mas, ao mesmo tempo, cego e desesperado, ele percebe que a única ligação que o une ao mundo é a fresca mão de uma moça. Então uma tremenda observação soa: "A despeito de tantas experiências difíceis, minha idade avançada e a nobreza da minha alma me fazem concluir que está tudo bem". O Édipo de Sófocles, assim como o Kirilov de Dostoievsky, desta forma dão a receita para a vitória absurda. A sabedoria antiga confirma o heroísmo moderno. Não se descobre o absurdo sem ser tentado a escrever um manual sobre a felicidade. "O que ? --- Por estes estreitos caminhos ? --- " Não há um só mundo, de qualquer maneira. Felicidade e absurdo são dois filhos da mesma Terra. Eles são inseparáveis. Seria um erro dizer que a felicidade nasce necessariamente do descobrimento do absurdo. O mesmo quanto ao sentimento do absurdo nascer da felicidade. "Eu concluo que está tudo bem", diz Édipo, e esta observação é sagrada. Ela ecoa no universo selvagem e limitado do homem. Ela ensina que tudo não foi e nem está esgotado. Ela expulsa deste mundo um deus que veio a ele com descontentamento e com uma preferência pelo sofrimento inútil. Ela faz do destino uma questão humana, que deve ser resolvida entre os homens. Toda a alegria silenciosa de Sísifo está contida nisto. Seu destino pertence a ele. Sua rocha é algo semelhante ao homem absurdo quando contempla seu tormento; silencia todos os ídolos. No universo subitamente devolvido ao seu silêncio as pequenas vozes extremamente fascinantes do mundo elevam-se. A inconsciência, os chamados secretos, os convites de todos os aspectos, eles são o reverso necessário e o preço da vitória. Não há sol sem sombra, e é essencial conhecer a noite. O homem absurdo diz sim e seus esforços doravante serão incessantes. Se há um destino pessoal, não há um destino superior, ou há, mas um que ele conclui que é inevitável e desprezível. Para o restante, ele reconhece a si mesmo como o mestre de seus dias. No momento sutil quando o homem dá uma olhada para trás em sua vida, Sísifo retornando à sua pedra, neste modesto giro, ele contempla aquela série de ações não relacionadas que formam o seu destino, criado por ele, combinados e sujeitos ao olhar de sua memória e logo selados por sua morte. Assim, convencido da origem totalmente humana de tudo o que é humano, o homem cego, ansioso para ver, que sabe que a noite não tem fim, este homem permanece em movimento. A rocha ainda está rolando.
Eu deixo Sísifo no pé da montanha! Sempre se acha sua carga novamente. Mas Sísifo ensina a mais alta honestidade, que nega os deuses e ergue rochas. Ele também conclui que está tudo bem. O universo, de agora em diante sem um mestre, não parece a ele nem estéril nem inútil. Cada átomo daquela pedra, cada lasca mineral daquela montanha repleta de noite, em si próprio forma um mundo. A própria luta em direção às alturas é suficiente para preencher o coração de um homem.
Deve-se imaginar Sísifo feliz.

terça-feira, 29 de julho de 2008

Um Cruzamento
Franz Kafka (tradução de Torrieri Guimarães)
Tenho um animal singular, metade gatinho, metade cordeiro. Herdei-o com uma das propriedades de meu pai. Contudo, apenas se desenvolveu ao meu tempo, pois anteriormente possuía mais de cordeiro que de gatinho. Agora participa das duas naturezas igualmente. Do gato, a cabeça e as unhas; do cordeiro, o tamanho e a figura; de ambos, os olhos, selvagens e acesos; o pêlo, suave e bem assentado; os movimentos, já saltitantes, já lânguidos. Ao sol, sobre o parapeito da janela, faz-se uma bola e ronroneia. No prado corre como enlouquecido e mal se pode alcançá-lo. Foge dos gatos e pretende atacar os cordeiros. Em noites de lua são as telhas o seu caminho preferido. Não pode miar e tem repugnância pelos ratos. É capaaz de passar horas inteiras à espreita diante do galinheiro, mas até agora não aproveitou nunca a ocasião de matar.
Alimento-o com leite doce; é o que melhor lhe assenta. Bebe-o sorvendo-o a longos tragos por entre seus dentes ferozes. Naturalmente, é um espetáculo completo para as crianças. No domingo pela manhã é hora de visitas. Ponho o animalzinho sobre os meus joelhos e as crianças de toda a vizinhança detêm-se ao meu redor.
Então são formuladas as perguntas mais maravilhosas, esas que nenhum ser humano pode responder: por que existe apenas um animal como este, por que eu o tenho, exatamente eu, se antes dele existiu outro animal assim e como será depois de morto, se se sente muito só, por que não dá cria, como se chama, etc.
Não me dou ao trabalho de responder, e contento-me em mostrar, sem mais explicações, aquilo que possuo. Ás vêzes, as crianças vêm com gatos e uma vez, até trouxeram dois cordeiros. Mas contrariamente às suas esperanças, não se produziram cenas de reconhecimento. Os animais olhavam-se tranquilamente com olhos animais e consideraram, sem dúvida, reciprocamente, sua existência como uma obra divina.
Sobre os meus joelhos, este animal não conhece nem o medo nem desejos de persiguir ninguém. Acocorado contra mim é como se sente melhor. Está apegado à família que o criou. Isto não pode ser considerado, por certo, como uma demonstração de fidelidade extraordinária, porém como o reto instinto de um animal que na terra tem inumeráveis parentes políticos, mas talvez nem um só consanguíneo, e para o qual, por isso, lhe parece sagrada a proteção que encontrou entre nós.
Às vezes me faz rir quando me fareja, desliza-se por entre minhas pernas, e não há modo de afastá-lo de mim. Não satisfeito em ser gato e cordeiro, quer ser quase cachorro. Aconteceu uma vez que, como pode ocorrer a qualquer um, não encontrava solução para meus problemas de negócios e para tudo o que se relacionasse com eles, e pensava abandonar tudo; em tal estado de espírito enterrei-me na cadeira de palha, com o animal sobre os joelhos, e ao olhar para baixo percebi casualmente que dos longuíssimos pelos de sua barba gotejavam lágrimas. Eram minhas? Eram suas? Tinha também aquele gato com alma de cordeiro ambição humana? Não herdei grande coisa do meu pai, mas esta herança é digna de ser mostrada.
Tem ambas as inquietações em si, a do gato e a do cordeiro, por diversas que sejam uma e outra. Por isso a pele lhe é estreita. Às vezes salta sobre o assento, ao meu lado, apóia-se com as patas dianteiras em meu ombro e põe o focinho junto ao meu ouvido. É como se me dissesse algo e então se inclina para diante e olha-me cara a cara para observar a impressão que a comunicação me fêz. E para ser complacente com ele, faço como se tivesse compreendido algo e confirmo com a cabeça. Então salta ao solo e começa a bailar ao meu redor.
Talvez o facão de açougueiro fôsse uma libertação para este animal, mas como o recebi em herança devo evitar isso. Por iso terá de esperar que o alento lhe falte por si, apesar de que, às vezes, me olhe com olhos humanamente compreensivos que incitam a agir compreensivamente.
Manifesto da Arte de Educar


Durante mais ou menos três horas professores integrantes de O chão da escola (15) juntamente com professores (15) do Centro Educacional de Baixa Grande, pequeno povoado do município de Inhambupe-Ba, refletiram sobre a educação e uma possível arte de educar, cujos resultados expressam-se nos seguintes aforismos:

Definitivamente a escola nunca foi ou não é ainda um espaço sociocultural capaz de enfrentar os desafios do processo ensino-aprendizagem sem distribuir os seus cães policiais em muitas direções, na maior parte das disciplinas, e na defesa da reprodução de todas as formas de servilismo e banalidades.

O professor-artista deve encarar a escola como um espaço permanente de luta: contra os desvios dos recursos públicos, a nomeação ilegal, o parasitismo dos oportunistas, e a favor da mobilização de todos os aliados de dentro e fora da escola para torná-la um instrumento de luta contra a barbárie.

O professor artista, ao invés de reproduzir conhecimentos alienígenas, é especialista em quebra-cabeças para o estudante destrinçar; identifica situações de barbárie e intervém para mudar os destinos; ri da história como esteira rolante e investe na criação e afirmação de historicidades; faz da falta de opção ao magistério uma fulguração do tempo e uma oportunidade para transformar o mundo; acredita numa educação completa quando se é possível discernir o certo do errado, tendo como horizonte a emancipação da humanidade e a afirmação da vida como obra de arte;

Se todo professor, formado em escolas, universidades, centros de estudos com o perfil que temos, o da permanente reprodução, está completamente despreparado para lidar com a “vida lá fora” que vem “pra sala de aula”, então a arte de educar começa com a auto-educação, senão cada um terá que bater com a cara no chão até aprender;

Toda escola destituída do mínimo necessário para desenvolver suas atividades de formação e informação deveria começar sua revolução através de murais indicando os latifundiários ao seu entorno, os políticos locais nomeados nos últimos 30 anos, a pauta do sindicato da categoria, o número de igrejas, presídios, bares e escolas, ao lado de murais com imagens daqueles que constroem a escola sobretudo fora da escola e apesar da escola.

Desconfiem radicalmente de todo discurso em torno de pedagogias progressivistas, construtivistas, stalinistas, etc., em que doutores se apresentam com as últimas novidades. A arte de educar é extremamente mal educada e aposta no caos, na experimentação, no embate, no debate, como condição de possibilidade para uma educação libertária.

Não há arte de educar sem permanente exercício de alteridade, sem reinventar as obrigações institucionais da escola, sem levar a sério o burburinho dos corredores, sem mudar os hábitos nazifacistalinistas, sem acreditar na justiça criada pelos injustiçados, sem atentar para as miríades de situações de aprendizagens, sem acreditar que há, apesar de tudo, sempre uma possibilidade de se ter às mãos um texto literário para submeter a realidade ao crivo de sua própria ficção.

A mais radical arte de educar é aquela de fazer a literatura chegar aos iletrados e, com eles e a partir deles, mudar a natureza e a função tanto da literatura quanto dos iletrados.

Nonsense como o grau zero da produção de sentidos!

Baixa Grande, 07 de junho de 2008