quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Vinho Zurrapo e Moscas Talentosas (por Ecristio Raislan)

Miraldo cuspiu os poucos pedaços da maçã que mastigara, olhou o verme, que acabara de perceber entre seus dentes, contorcendo-se em derradeira agonia, falou abruptamente um palavrão que pouco usava e saiu. Meteu-se na rua procurando sossego, procurando satisfação, talvez sexo. E não, desta vez não seria com uma puta barata! Miraldo mal se lembrava de sua última conquista... Desta vez não é o que sempre pensa, nem o que sempre pensava, era o que sempre quis pensar. Viu numa esquina com cheiro de mijo, uma moça diferente, um olhar diferente, um semblante diferente, uma genitália diferente, uma bolsa girando em sentido anti-horário com uma maquiagem pesada, fria e fraca... Não!!! Desta vez não. Picou todas as suas lembrança, picou todos os seus anseios, picou todas as suas inverdades, picou sua insegurança, picou seu instinto verme de viver como sempre pica. E pica é pra ser usada...
Miraldo acordou em pedaços na manhã que o massacrava. O gosto azedo em sua boca, a ânsia de vômito que a cachaça vagabunda particularmente lhe causava, olhou o teto fixamente, olhou a cor branca do teto fixamente, olhou a rachadura na cor branca do teto ao lado do ventilador a procura de algo que ventilasse sua dor de cabeça, desceu uma pouco a vista. Viu uma garota deitada ao seu lado. O mais novo fruto da corrupção de sua noite fosca...
Miraldo acendeu um cigarro alvoroçado, ascendeu seu ânimo malogrado, percebeu seu coração descompassado e saiu nu, sem nenhuma roupa nos seus princípios, apenas a vontade e o desejo imperavam, o desejo o impulsionava, o desejo... o desejo tinha que ficar para depois. Pegou o dinheiro em seu criado mudo... Todo em moedas. Gostava de pegar suas putas em moedas. Gostava do mito urbano da ponta de esquina e pagamento em moedas. Despediu-se do amor de sua vida da última noite com uma rosa branca e um beijo na mão...
Miraldo vestiu sua batina atrasado e foi celebrar sua missa do Domingo.

Nenhum comentário: