quarta-feira, 10 de setembro de 2008

Mapas da alcova (Jairo de Oliveira Ramos)

Era final de março e Marcílio sentia o outono rabiscar seus primeiros sinais nas folhas das árvores, ao mesmo tempo em que uma forte ventania adentrava o seu quarto levando aos ares páginas de livros, restos de muriçocas mortas e a sua existência num rodamoinho que o arremessou no meio de uma guerra sem fim. Precisamente, no campo de batalha das alamedas florais.

Tiros, muitos tiros. Canhões e tanques de guerra arremessando estilhaços de corpos pelo campo enlameado de sangue e púrpura das vísceras dos corações. Para onde vou? Em que trincheira me esconder?Em que alvo devo mirar? Pensava o jovem.

O seu instante de dúvida parecia soar como um erro na batalha campal. Sem mais hesitar fez-se a disparada. Correu... Correu enquanto despendia do céu bombas de lacrimogêneo... correu até faltar o fôlego, até faltar o tônus muscular para as pernas.Os pés carregados de lama e o corpo esquálido dialogava com a planície movediça e carregadas de edifícios vazios. Ainda recuperando o ar aos pulmões olhou para os lados, viu alguém acenar, a gritar desesperadamente. Parecia um homem com capa vermelha e chapéu de veludo, mas não conseguia distinguir bem a face por conta da neblina. O que ele tanto enuncia?Não estou escutando! Marcílio havia ensurdecido com os rojões de granada arremessados ao solo durante sua disparada.

Se rastejando pela lama encharcada de espinhos, o resmundo ia ao encontro deste homem. Rastejava. Os espinhos brechavam sua carne, mas ele insistia, olhou para o alto: o céu era cinza e o fez recordar de um mapa que guardava em seu bolso. Parou um pouco. Retirou o mapa e pôs-se a decifrar... Pensou: Talvez aqui possa encontrar o túnel que me tire deste amontoado de arames farpados. Num gesto de riso, sim, Marcílio ria soberbamente das linhas que se cruzam, embaralham, bifurcam e se fiam na cartografia que está em suas mãos...

Hei!Hei!Soldado! Venha para cá!- falava o homem. O jovem, então, guarda o mapa entre os dentes. Olha ao redor e observa transeuntes a olharem vitrines pelas calçadas e jantando nos restaurantes.Hei!Hei! Soldado!Vamos!
O combatente solitário mesmo com a audição perdida acredita que os gestos daquele homem de chapéu e capa realmente o estejam chamando. Neste momento, com uma fadiga enorme no corpo tira o papel dos dentes, olha-o rapidamente e agora vê quadrados no mapa. Guarda o papel no bolso esquerdo do blusão, enquanto à sua frente crianças soltam balões pelos ares...

Enfim tu chegaste! Já era tempo!Sente-se e respire com calma! Diz o senhor que tanto acenava para Marcílio que agora confirma a tua capa vermelha e teu chapéu de veludo.

O jovem extenuado observa os gestos do senhor e senta na cadeira, bebe uma xícara de café amargo e vê do outro lado do vidro que dividia a sala em que estava guilhotinas em série descarrilhando lâminas, e pós a queda do metal afiado sentiu no tremular do piso algo que terminara de cair ao chão.

Não se apavore!...Quero apenas o mapa que tu trazes e lhe abro a porta do túnel que você tanto procura.

Estático, o combatente entende o que aquele homem tanto deseja. Assim, com apenas um olhar indica onde se encontra tal cartografia. O senhor da capa vermelha com um pequeno riso retira o mapa do bolso da jaqueta... Uma porta se abre... Uma escada se revela na escuridão e o solitário desce por ela. Antes de fechar a porta o homem fala algo indiscernível para Marcílio em vias de desmaio sob a cama a sua frente...

Marcílio percebe passos no corredor, a pegada aumenta sua intensidade, seu peso e som vão delineando-se em seus sentidos... Quem será? Pensa ele enquanto pisca os olhos com uma leve brisa que adentra seu espaço de dormida. Uma sombra aparece na soleira da porta do quarto. Parece alguém com capa, chapéu e uma carta no bolso. Um frio toma o seu corpo e arrepios contaminam sua pele. Toc... Toc... Toc...

Sem levantar da cama, fica envolto com o cobertor encharcado de suor. Toc... Toc... Toc... Ele tenta se levantar, mas ainda não se refortaleceu da batalha das Alamedas. Sabe que alguém o chama que precisa abrir a porta, pressente que é uma voz rouca que não lhe é estranha te dizendo: vim lhe trazer uma xícara de café adoçado.

Marcílio respira fundo, olha para a janela que treliça com o vento, trazendo consigo folhas mortas e insetos para alcova. Vim te ver, não vai abrir a porta? Ao ver a fechadura se movendo, percebeu seu peito pulsar lentamente com um fluir frio do seu sangue se disseminando por completo pelo corpo. Assim mesmo, ameaçou um movimento, mas o nublado negrume entrara arranhando a parede com marcas de lama e fragmentos de pétalas nas mãos, deixando cair a xícara de café sob um corpo que jazia na cama juntamente com um mapa pintado de cinza.

2 comentários:

Anônimo disse...

A intenção é uma das melhores que já vi. porém o texto precisa ser enxuto!muitos adjetivos e referencias a paisagem vazia.Igualmente vazio o foço gnosiológico, pouca intensidade e imaginação...Toda essa insuficiencia, é de esperar de um jovém que provém da lama escrota da boca [banguela] do rio,que faz de sua precoce ejaculação literária, a gosma homérica e parca a lhe dar o sustento, o conforto psicóide de sua existência frívola. Enfim, mais umas destas pessoas que se utilizam de progamas do governo e da net para "se aparecer pra caralho".

Educação e Cultura disse...

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