sexta-feira, 22 de maio de 2009

Enc: sobre mapas e lembranças

Sobre mapas e lembranças

(andré luiz oliveira)

                        

Eu acredito em alguns dias

E ainda assim respiro lágrimas.

Se daquele beijo restou uma imagem enquadrada

É porque gostávamos mais de fotografia que de romances

Vês agora que nem por isso somos menos concorrentes

Apenas deixamos de lado as ilusões do enlace

Que nos mergulhou num idílio de conforto e doçura

Mas o gosto da distância não é ruim.

 

Eu acredito em alguns dias

E ainda assim recebo flores.

Se fosse possível um último toque

Pediria para que te vestisses de branco

Pra te mostrar os erros escondidos naqueles sonhos

 

Eu acredito em alguns dias

E ainda assim carrego mágoas.

Parece que a dor te trouxe pra perto

Mas não sabes em que posição atracar

Pois os meus desejos não se criam em mapas

Como tuas eternas lembranças...



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segunda-feira, 4 de maio de 2009

A micareta dos picaretas

Falar, escrever, significa: falar contra, escrever contra. (Silviano Santiago)


A preconizada micareta da diversidade cultural postulada pela prefeitura de Alagoinhas nunca enganou, nem enganará uma única mula míope com lente de aumento, exceto as mecena(s)-rias ávidas em abastecer seus cofres com a boa ação da madre-gestora. Desde os bastidores, a micareta, ala-folia 2009, recebeu acusações de “lavagem” de dinheiro. A indústria do axé e toda sua maquinaria: produtoras, mídias, agências de Turismo etc., há décadas hegemônica nas festas “populares” no estado da Bahia, impassível como pedra a essas denúncias, cantou seus alegres versos em solo alagoinhense.

Enquanto isso, sem outdoors, jornalistas ou fotógrafos, e grande público, a um cachê infame, os artistas locais foram alocados em cercanias a margem do evento sob a velha sentença, que se assemelha mais a uma anátema. Dizem nossos gestores: “No centro os filhos de Deus bem remunerados pela graça alcançada, ao lado os famigerados pecadores, à espera do chamado divino”. Eis as suas palavras, sua verborragia de boas intenções.

Contudo, quem foi na sexta-feira a um desses espaços-underground, vigiado por policiais, pôde assistir ao poético show do rapper MC Osmar. Ele fez do seu poderoso freestyle, extensão inventiva da política de suas letras, um poderoso instrumento de sublevação à perseguição policial da sua gente, ao desprezo dos poderes constituídos a situação social da comunidade do Petrolar, cuja comunidade desenvolve trabalhos sociais, e à falta de uma política cultural que possa dar conta da demanda dos artistas independentes. Nesse sentido, qualquer crítica ao artista do tipo “se vendeu” deve ser colocada em relação com outros artistas que tocam nos centros da micareta e a todos aqueles que cobrem esse evento para perguntarmos: “quem é que se vendeu”?

Senhores jornalistas publiquem esse texto, é ralo porque é como pirão de água com farinha de mandioca.

Cristopher Moura é membro do Coletivo Odradek de Cinema Nômade

domingo, 3 de maio de 2009

Salve Augusto Boal!


ESTÉTICA DO OPRIMIDO
Para além do palco fica o ser integral

A mais recente pesquisa de Augusto Boal e da Equipe do CTO-Rio, os alicerces teóricos e os primeiros resultados dessa experiência estão registrados no livro Aesthetics of the Oppressed, lançado pela editora Routledge, em Londres, Reino Unido, em março de 2006.

A estética do oprimido tem por fundamento a certeza de que somos todos melhores do que pensamos ser, capazes de fazer mais do que realizamos, porque todo ser humano é expansivo.
Mais do que simples atores

A estética do oprimido visa promover a expansão da vida intelectual e estética de participantes de Grupos Populares de Teatro do Oprimido, evitando que exercitem apenas a função de ator, que representa personagens no palco. Os integrantes desses grupos são estimulados, através de meios estéticos, a expandirem a capacidade de compreensão do mundo e as possibilidades de transmitirem aos demais membros de suas comunidades - bem como aos de outras - os conhecimentos adquiridos, descobertos, inventados ou reinventados.

A estética do oprimido baseia-se na idéia de que o Teatro do Oprimido é um teatro essencial - no sentido de estar na essência própria do ser humano. Trata-se do teatro que todo ser humano é, por sua capacidade de ver-se agindo, de ser espectador de si próprio. De se separar em ator e espectador para multiplicar a capacidade de entender sua própria ação.

O ser humano, diferentemente de todas as outras espécies de animais, é capaz de se ver agindo, de analisar a situação em que se encontra e, como um diretor, dirigir a ação. Como figurinista tenta adequar sua aparência à situação e ao cenário onde vai atuar. Como dramaturgo produz o texto conforme a ocasião. Como ser humano é capaz de representar a realidade, recriar o real em imagem, para entender sua existência e imaginar sua ação futura.


O Teatro do Oprimido atua nesse sentido, estimulando as pessoas a descobrirem o que já são, a revelarem para si próprias que são potência, que, por serem capazes de metaforizar o mundo, ou seja, de representá-lo, são capazes de recriá-lo. O objetivo é que essa descoberta ou redescoberta permita que cada um se aproprie do que originalmente é seu: a capacidade de ver-se agindo, de analisar e recriar o real, de imaginar e inventar o futuro. Para ajudar cada um a descobrir essa potência e capacidade transformadora, promovem-se atividades artísticas em quatro eixos:

  1. Palavra: falada/ escrita: os participantes produzem poesias, poemas, reflexões: "o que mais me impressionou" (relato sobre situações que impressionam os participantes no dia-a-dia), "declaração de identidade" (carta para algum interlocutor - conhecido ou não - com descrição do remetente), artigos, contos, além de textos dos espetáculos.
  2. Imagem: atividades de artes plásticas, com produções de desenhos, figuras, criação de esculturas a partir de objetos encontrados; fotografia - análise do mundo que nos cerca e, criação de cenas e espetáculos.
  3. Som: sonoridade: pesquisa sonora, descoberta do potencial da voz, instrumentos existentes/ inventados, música e criação de dança a partir de movimentos da vida cotidiana.
  4. Ética: diálogos/ conversação: promoção de encontros com especialistas e promoção de centros de estudos de: filosofia, história, ecologia, economia, política e vida social.

O trabalho da estética do oprimido vem sendo desenvolvido de maneira Populares de Teatro de Oprimido coordenados pelo CTO-Rio, no Rio de Janeiro, assim como em workshops internacionais.


Teatro do Oprimido


Método estético que sistematiza exercícios, jogos e técnicas teatrais que objetivam a desmecanização física e intelectual de seus praticantes, e a democratização do teatro. O TO cria condições práticas para que o oprimido se aproprie dos meios de produzir teatro e assim amplie suas possibilidades de expressão. Além de estabelecer uma comunicação direta, ativa e propositiva entre espectadores e atores.

fonte:http://www.eja.org.br ou www.ctorio.org.br




Rondó da Liberdade (Carlos Marighella)



É preciso não ter medo,
é preciso ter a coragem de dizer.
Há os que têm vocação para escravo,
mas há os escravos que se revoltam contra a escravidão.
Não ficar de joelhos,
que não é racional renunciar a ser livre.
Mesmo os escravos por vocação
devem ser obrigados a ser livres,
quando as algemas forem quebradas.
É preciso não ter medo,
é preciso ter a coragem de dizer.

O homem deve ser livre...
O amor é que não se detém ante nenhum obstáculo,
e pode mesmo existir quando não se é livre.
E no entanto ele é em si mesmo
a expressão mais elevada do que houver de mais livre
em todas as gamas do humano sentimento.
É preciso não ter medo,
é preciso ter a coragem de dizer.


2009: ano de aniversário de morte do grande Carlos Mariguella. Durante esse ano, o Coletivo Odradek de Cinema Nômade fará - através deste blog - algumas homenagens a esse grande guerreiro-guerrilheiro.

sábado, 2 de maio de 2009

QUEM É ODRADEK?


Quem é Odradek? Um monstro sem origem e sem imagem?! - Quem teria o disparate de dizer que um carretel achatado em forma de estrela com pedaços de linha emendados possui um espírito... Aparecer e sumir, de que terra vem esse odradek? – é um forasteiro?

PARA OS ENTENDIDOS EM ODRADEKISMO

Alquimia que tira da razão o relógio e que deposita nos poros, neurônios.

Rebu: corpo de caranguejo e asas de borboleta.

Pobre Menina homicida: matou sobre um grifo o pai e a mãe

Um túnel de operários cavado por toupeiras gigantes, com rios em betume.

ODRADEK E A REVOLUÇÃO

I

Odradek, para nós tem um caráter universal e imprevisível. Isso quer dizer, em outras palavras, que Odradek é a materialização de uma zona autônoma temporária. Pode está em todo lugar: escolas, presídios, hospitais, asilos, fábricas, etc. sua sonoridade é a dos “E”. Seu sentido está em arruinar as formas, as ordens, as previsões, o tempo, enfim: tudo que é sólido e rijo.

II

Odradek preocupa o pai de família, não como apenas há de se supor: “é um conto-programa, rebelde à tradição familiar de Édipo”; mas porque sua narrativa rápida e direta em conexões (não só pela natureza literária, um romance de 500 páginas pode ser rápido!), produz fluxos infinitesimais com o tempo-espaço, faz o pai-literatura-falo suspeitar, em seus deslizamentos transversais, (aparecer rápido sobre os degraus e sumir) do caráter múltiplo do significante literário. O que dizemos é que Odradek dá forma a uma literatura revolucionária, de fronteira.

Nese sentido, o conto kafkiano casa-se com o terceiro-mundo e seus monstros literários bastardos. E aí, alargando a noção de literatura para texto oral, pode - se produzir um novo efeito, se quisermos cinético: Odradek, como num mito grego do devorador Cronos, nasce e morre infinitas vezes, só que nesse caso, difamado pela boca do inferno de uma mendiga, Estamira: Odradek converte-se em “ trocadilo” ,Sentido flutuante, múltiplo, conjuntural, revolucionário. Odradek torna-se uma zona autônoma temporária.


Cristopher Moura, membro do coletivo de cinema Odradek, junto com Jairo e Wilton.