quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Tribulação de um pai de família (Kafka)


Alguns derivam do eslavo a palavra Odradek e querem explicar sua formaçao mediante essa origem. Outros a derivam do alemão e admitem apenas uma influência do eslavo. A incerteza de ambas as interpretações é a melhor prova de que são falsas; além disso, nenhuma delas nos dá uma explicação da palavra.
Naturalmente ninguém perderia tempo em tais estudos se não existisse realmente um ser chamado Odradek. Seu aspecto é o de um carretel de linha, achatado e em forma de estrela, e a verdade é que se parece feito de linha, mas de pedaços de linha, cortados, velhos, emaranhados e cheios de nós, de todos os tipos e cores diferentes. Não é apenas um carretel; do centro da estrela sai umahastezinha e nesta se articula outra em 6angulo reto. Com a ajuda desta última de um lado e um dos raios da estrela do outro, o conjunto pode ficar em pé como se tivesse duas pernas.
Seriamos tentados e crer que esta estrutura teve alguma vez uma forma adequada e uma funçao, e que agora apenas está quebrada. Entretanto, esse não parece ser o caso; não há pelo menos nenhum sinal disso; em parte alguma se vêem remendos ou rupturas; o conjunto parece sem sentido, porém completo à sua maneira. Nada mais podemos dizer, porque Odradek tem estraordinária mobilidade e não se deixa capturar.
Tanto pode estar no forro, como no Vão da escada, nos corredores, no saguão. Ás vezes passam-se meses sem que alguém o veja. Terá se aninhado nas casas vizinhas, mas sempre volta à nossa. Muitas vezes, quando cruzamos a porta e o vemos lá embaixo, encostado ao balaústre da escada, temos vontade de falar-lhe.
Naturalmente não se fazem a ele perguntas difíceis, mas sim o tratamos - seu diminuto tamanho nos leva a isso - tal qual uma criança. "Como te chamas?"perguntam-lhe. "Odradek",diz. "E onde moras?" "Domicilio Incerto", responde , e ri, mas é um riso sem pulmões. Soa como um sussuro de folhas secas.
Geralmente o diálogo acaba aí. Nem sempre se conseguem essas respostas; por vezes guarda um silêncio, como a madeira de que parece ser feito. Inutilmente me pergunto o que acontecerá a ele. Pode morrer? Tudo que morre teve antes um objetivo, uma espécie de atividade, e assim se gastou; isto Não acontece com Odradek. descerá a escada arrastando fiapos frente aos pés de meus filhos e dos filhos de meus filhos? Não faz mal à ninguem mas a idéia de quepossa sobreviver-me é quase dolorosa para mim.

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Xilogravura: arte popular


Xilogravura

por Carolina Lopes

A xilogravura é um processo de gravação em relevo que utiliza a madeira como matriz e possibilita a reprodução da imagem gravada sobre papel ou outro suporte adequado.
Para fazer uma xilogravura é preciso uma prancha de madeira e uma ou mais ferramentas de corte, com as quais se cava a madeira de acordo com o desenho planejado.
É preciso ter em mente que as áreas cavadas não receberão tinta e que a imagem vista na madeira sairá espelhada na impressão; no caso de haver texto, grava-se as letras ao contrário.
Depois de gravada, a matriz recebe uma fina camada de tinta espalhada com a ajuda de um rolinho de borracha. Para fazer a impressão, basta posicionar uma folha de papel sobre a prancha entintada e fazer pressão manualmente, esfregando com uma colher ou mecanicamente, com a ajuda de uma prensa.
Como podemos constatar, é uma técnica bastante simples e barata; por isso se presta tão bem às ilustrações das capas dos folhetos de cordel. Para termos uma idéia desta simplicidade, basta saber que os gravadores nordestinos fabricam suas próprias ferramentas de corte com pregos e varetas de guarda-chuva, por exemplo, para conseguirem diferentes efeitos no desenho.

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Prelúdio à fruição (André Luiz Oliveira)

 

A inspiração é pouca e a fome muita

Não desejo as frases, não as sinto minhas.

Não perderei tempo valorando os vibratos das rimas,

Iludir-me atribuindo as variáveis da equação cansada da métrica.

Uma necessidade carnal me consome o sentimento das coisas

Que não posso tragar e mastigar.

Quero desobrigar-me da crítica caçadora de sintaxes,

Sentir o meio-dia adiantado aliciar meu estômago

Lubrificar a organicidade maquínica do meu intestino

Com farinha, feijão, um pedaço de carne, suco feito às pressas

Ou água mesmo, e sua limpidez duvidosa.

Abastecido, mandarei às favas os bons tons e a cerimônia retórica

Que bucho vazio não vinga poesia colorida.



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segunda-feira, 13 de outubro de 2008

O velho e bom Quino


domingo, 12 de outubro de 2008

A pintura abstrata de Miró


quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Eleições: gênese e vício (André Luiz Oliveira)

 

Poderes criam sujeições

Sujeições criam rebanhos

Rebanhos criam uniformidades

Uniformidades criam ordinários

Ordinários criam ordens

Ordens criam punições

Punições criam culpados

Culpados criam medos

Medos criam resignações

Resignações criam reações

Reações criam privilégios

Privilégios criam hierarquias

Hierarquias criam pobrezas

Pobrezas criam famintos

Famintos criam pedintes

Pedintes criam expectativas

Expectativas criam oportunidades

Oportunidades criam promessas

Promessas criam ilusões

Ilusões criam ignorâncias

Ignorâncias criam eleitores

Eleitores criam eleitos

Eleitos criam segregações

Segregações criam deformidades

Deformidades criam marginais

Marginais criam subterfúgios

Subterfúgios criam descompassos

Descompassos criam jurisprudências

Jurisprudências criam leis

Leis criam temeridades

Temeridades criam viciados

Viciados [re]criam o ciclo

Que destrói a potência da vida.



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