segunda-feira, 4 de maio de 2009

A micareta dos picaretas

Falar, escrever, significa: falar contra, escrever contra. (Silviano Santiago)


A preconizada micareta da diversidade cultural postulada pela prefeitura de Alagoinhas nunca enganou, nem enganará uma única mula míope com lente de aumento, exceto as mecena(s)-rias ávidas em abastecer seus cofres com a boa ação da madre-gestora. Desde os bastidores, a micareta, ala-folia 2009, recebeu acusações de “lavagem” de dinheiro. A indústria do axé e toda sua maquinaria: produtoras, mídias, agências de Turismo etc., há décadas hegemônica nas festas “populares” no estado da Bahia, impassível como pedra a essas denúncias, cantou seus alegres versos em solo alagoinhense.

Enquanto isso, sem outdoors, jornalistas ou fotógrafos, e grande público, a um cachê infame, os artistas locais foram alocados em cercanias a margem do evento sob a velha sentença, que se assemelha mais a uma anátema. Dizem nossos gestores: “No centro os filhos de Deus bem remunerados pela graça alcançada, ao lado os famigerados pecadores, à espera do chamado divino”. Eis as suas palavras, sua verborragia de boas intenções.

Contudo, quem foi na sexta-feira a um desses espaços-underground, vigiado por policiais, pôde assistir ao poético show do rapper MC Osmar. Ele fez do seu poderoso freestyle, extensão inventiva da política de suas letras, um poderoso instrumento de sublevação à perseguição policial da sua gente, ao desprezo dos poderes constituídos a situação social da comunidade do Petrolar, cuja comunidade desenvolve trabalhos sociais, e à falta de uma política cultural que possa dar conta da demanda dos artistas independentes. Nesse sentido, qualquer crítica ao artista do tipo “se vendeu” deve ser colocada em relação com outros artistas que tocam nos centros da micareta e a todos aqueles que cobrem esse evento para perguntarmos: “quem é que se vendeu”?

Senhores jornalistas publiquem esse texto, é ralo porque é como pirão de água com farinha de mandioca.

Cristopher Moura é membro do Coletivo Odradek de Cinema Nômade

Um comentário:

Quilombo Afrocultural disse...

O movimento já não é de resistência, é de invasão, seja em forma de marchas, piquetes, pichação, ou em uma simples, porém pujante canção.
Que engulam o nosso vômito!!!!!