terça-feira, 29 de julho de 2008

Manifesto da Arte de Educar


Durante mais ou menos três horas professores integrantes de O chão da escola (15) juntamente com professores (15) do Centro Educacional de Baixa Grande, pequeno povoado do município de Inhambupe-Ba, refletiram sobre a educação e uma possível arte de educar, cujos resultados expressam-se nos seguintes aforismos:

Definitivamente a escola nunca foi ou não é ainda um espaço sociocultural capaz de enfrentar os desafios do processo ensino-aprendizagem sem distribuir os seus cães policiais em muitas direções, na maior parte das disciplinas, e na defesa da reprodução de todas as formas de servilismo e banalidades.

O professor-artista deve encarar a escola como um espaço permanente de luta: contra os desvios dos recursos públicos, a nomeação ilegal, o parasitismo dos oportunistas, e a favor da mobilização de todos os aliados de dentro e fora da escola para torná-la um instrumento de luta contra a barbárie.

O professor artista, ao invés de reproduzir conhecimentos alienígenas, é especialista em quebra-cabeças para o estudante destrinçar; identifica situações de barbárie e intervém para mudar os destinos; ri da história como esteira rolante e investe na criação e afirmação de historicidades; faz da falta de opção ao magistério uma fulguração do tempo e uma oportunidade para transformar o mundo; acredita numa educação completa quando se é possível discernir o certo do errado, tendo como horizonte a emancipação da humanidade e a afirmação da vida como obra de arte;

Se todo professor, formado em escolas, universidades, centros de estudos com o perfil que temos, o da permanente reprodução, está completamente despreparado para lidar com a “vida lá fora” que vem “pra sala de aula”, então a arte de educar começa com a auto-educação, senão cada um terá que bater com a cara no chão até aprender;

Toda escola destituída do mínimo necessário para desenvolver suas atividades de formação e informação deveria começar sua revolução através de murais indicando os latifundiários ao seu entorno, os políticos locais nomeados nos últimos 30 anos, a pauta do sindicato da categoria, o número de igrejas, presídios, bares e escolas, ao lado de murais com imagens daqueles que constroem a escola sobretudo fora da escola e apesar da escola.

Desconfiem radicalmente de todo discurso em torno de pedagogias progressivistas, construtivistas, stalinistas, etc., em que doutores se apresentam com as últimas novidades. A arte de educar é extremamente mal educada e aposta no caos, na experimentação, no embate, no debate, como condição de possibilidade para uma educação libertária.

Não há arte de educar sem permanente exercício de alteridade, sem reinventar as obrigações institucionais da escola, sem levar a sério o burburinho dos corredores, sem mudar os hábitos nazifacistalinistas, sem acreditar na justiça criada pelos injustiçados, sem atentar para as miríades de situações de aprendizagens, sem acreditar que há, apesar de tudo, sempre uma possibilidade de se ter às mãos um texto literário para submeter a realidade ao crivo de sua própria ficção.

A mais radical arte de educar é aquela de fazer a literatura chegar aos iletrados e, com eles e a partir deles, mudar a natureza e a função tanto da literatura quanto dos iletrados.

Nonsense como o grau zero da produção de sentidos!

Baixa Grande, 07 de junho de 2008

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