sábado, 27 de setembro de 2008

Editais a serem lançados pela SECULT - BA

LISTA DE EDITAIS QUE AGUARDAM O PARECER DA PGE - PROCURADORIA GERAL DO ESTADO E COM PREVISÃO DE LANÇAMENTO ATÉ A SEGUNDA SEMANA DE SETEMBRO:

Edição de Obras Literárias de Autores Baianos
Bibliotecas Comunitárias
Incentivo a Leitura
Editoras para Edição de Coleção de Obras de Autores Baianos
Pesquisas de Escritores BaianoS
Edição de Livros sobre Memória
Preservação, Dinamização e Difusão de Acervos Pertencentes a Museus Privados e Comunitários no Estado da Bahia
Apoio à Elaboração de Projetos de Preservação do Patrimônio no Estado da Bahia
Apoio à Realização de Projetos de Valorização do Patrimônio no Estado da Bahia
Intervenções Urbanas
Projeto de Formação e Qualificação Artística
Apoio ao Circo
Cultura e Direitos Humanos
Circulação Dança
Circulação Teatro
Circulação Música
Apoio à Produção de Programas Radiofônicos de Poesia
Apoio ao Desenvolvimento de Roteiros

(Fonte: SECULT - BA)

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Fran-Góes (por Ecristio Raislan)




Vinho Zurrapo e Moscas Talentosas (por Ecristio Raislan)

Miraldo cuspiu os poucos pedaços da maçã que mastigara, olhou o verme, que acabara de perceber entre seus dentes, contorcendo-se em derradeira agonia, falou abruptamente um palavrão que pouco usava e saiu. Meteu-se na rua procurando sossego, procurando satisfação, talvez sexo. E não, desta vez não seria com uma puta barata! Miraldo mal se lembrava de sua última conquista... Desta vez não é o que sempre pensa, nem o que sempre pensava, era o que sempre quis pensar. Viu numa esquina com cheiro de mijo, uma moça diferente, um olhar diferente, um semblante diferente, uma genitália diferente, uma bolsa girando em sentido anti-horário com uma maquiagem pesada, fria e fraca... Não!!! Desta vez não. Picou todas as suas lembrança, picou todos os seus anseios, picou todas as suas inverdades, picou sua insegurança, picou seu instinto verme de viver como sempre pica. E pica é pra ser usada...
Miraldo acordou em pedaços na manhã que o massacrava. O gosto azedo em sua boca, a ânsia de vômito que a cachaça vagabunda particularmente lhe causava, olhou o teto fixamente, olhou a cor branca do teto fixamente, olhou a rachadura na cor branca do teto ao lado do ventilador a procura de algo que ventilasse sua dor de cabeça, desceu uma pouco a vista. Viu uma garota deitada ao seu lado. O mais novo fruto da corrupção de sua noite fosca...
Miraldo acendeu um cigarro alvoroçado, ascendeu seu ânimo malogrado, percebeu seu coração descompassado e saiu nu, sem nenhuma roupa nos seus princípios, apenas a vontade e o desejo imperavam, o desejo o impulsionava, o desejo... o desejo tinha que ficar para depois. Pegou o dinheiro em seu criado mudo... Todo em moedas. Gostava de pegar suas putas em moedas. Gostava do mito urbano da ponta de esquina e pagamento em moedas. Despediu-se do amor de sua vida da última noite com uma rosa branca e um beijo na mão...
Miraldo vestiu sua batina atrasado e foi celebrar sua missa do Domingo.

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

poesia de natal (andré luiz oliveira)

o que daria um noel preto
à guisa de visita
no fechado da estória alva
senão acabar com a graça
pantomina do natal?
sem o brilho oxidante,
com o odor do esforço concreto,
mitigante,
as marcas da última surra; truão velhaco:
o noel exemplar seria despido na sua arrogância
um tremendo idiota.

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Poema sem graça (Wilton Oliveira)

carros de som vomitam
na cara da cidade
o peso da tradição:
o tinir das correntes,
os estalar dos chicotes,
a ignorância da censura,
a captura do desejo,
a negação do povo.
a afirmação de uma
história que não é a nossa.

(inspirado nas eleições de Entre Rios)

domingo, 21 de setembro de 2008

sexta-feira, 19 de setembro de 2008

Pescadores (Cristopher Moura)

Navegam sua tristeza em velas surradas
O salitre alimentará suas esperanças
Nem que seja com o amargo sal.

Viajam sempre seus pesadelos
A dor sempre nutre o desesperado
O amor é mero analgésico.

Enlouqueceram na taverna
Venenos dilatam o desejo
Mas o cansaço entope as veias.

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Esse livro é uma raridade. Trata-se de uma entrevista concedida por Lula ao filósofo e psicanalista Félix Guattari, em 1982.
Bumba-meu-boi de Serraria, distrito de Entre Rios - Ba: a cultura popular sobrevivendo entre o mercado e a falta de políticas públicas para a cultura no município.

terça-feira, 16 de setembro de 2008

Eleições (Ieshua Pele Escura)

O votante, sem saber por que votava. Até que um cético perguntou: “o que te faz agir deste modo?”. O mesmo que faz todo desesperado agir: a necessidade, responde o votante. Inquieto com a situação o cético questiona “o que você necessita?”. “Não percebe? Necessitamos de trabalho pra comer; dirigentes para nos dirigir; propagandas para nos convencer; verdades para acreditar...” descreve melancólico o votante. Num surto de raiva o cético grita aos ventos “mas o que fazer da vontade? Não percebe que tantas necessidades foram criadas em nome da vontade, e que você perverteu este precioso instinto ao votar? Enquanto espera que tuas necessidades sejam saciadas por algo fora de você, teu corpo definha num abismo de desespero e a morte dança nas esquinas convidando – te a se entregar...”. Tudo bem, retruca o votante, se amanhã meu emprego estiver garantido. Isto se houver amanhã pra você...imagina silencioso o cético.

Fran-Góes (tiras de Ecristio Raislan)


O nome da personagem é Fran-Góes, inspirado em Pangloss de Cândido, de Voltaire. Ao invés de otimista, como era o filósofo de Voltaire, ele é pessimista, cínico, vagabundo, sarcástico, sádico... nem eu gosto dele, mas é um cara legal... (observações do autor)

Nordestes (Wilton Oliveira)

Cearás, Bahias, Pernambucos,
territórios, vidas, desejos.
Entre eles: a ânsia do sorriso,
a beleza do novo e
a felicidade dos encontros.

Viúva de Paulo Freire escreve carta de repúdio à Revista Veja

O que estão ensinando a ele? De autoria de Monica Weinberg e Camila Pereira, ela foi baseada em pesquisa sobre qualidade do ensino no Brasil. Lá pelas tantas há o seguinte trecho:'Muitos professores brasileiros se encantam com personagens que em classe mereceriam um tratamento mais crítico, como o guerrilheiro argentino Che Guevara, que na pesquisa aparece com 86% de citações positivas, 14% de neutras e zero, nenhum ponto negativo. Ou idolatram personagens arcanos sem contribuição efetiva à civilização ocidental, como o educador Paulo Freire, autor de um método de doutrinação esquerdista disfarçado de alfabetização.Entre os professores ouvidos na pesquisa, Freire goleia o físico teórico alemão Albert Einstein, talvez o maior gênio da história da humanidade.Paulo Freire 29 x 6 Einstein. Só isso já seria evidência suficiente de que se está diante de uma distorção gigantesca das prioridades educacionais dos senhores docentes, de uma deformação no espaço-tempo tão poderosa, que talvez ajude a explicar o fato de eles viverem no passado'.Curiosamente, entre os especialistas consultados está o filósofo Roberto Romano, professor da Unicamp. Ele é o autor de um artigo publicado na Folha, em 1990, cujo título é Ceausescu no Ibirapuera. Sem citar o Paulo Freire, ele fala do Paulo Freire. É uma tática de agredir sem assumir. Na época Paulo, era secretário de Educação da prefeita Luiza Erundina.
Diante disso a viúva de Paulo Freire, Nita, escreveu a seguinte carta de repúdio:
'Como educadora, historiadora, ex-professora da PUC e da Cátedra Paulo Freire e viúva do maior educador brasileiro PAULO FREIRE -- e um dos maiores de toda a história da humanidade --, quero registrar minha mais profunda indignação e repúdio ao tipo de jornalismo, que, a cada semana a revista VEJA oferece às pessoas ingênuas ou mal intencionadas de nosso país. Não a leio por princípio, mas ouço comentários sobre sua postura danosa através do jornalismo crítico. Não proclama sua opção em favor dos poderosos e endinheirados da direita, mas , camufladamente, age em nome do reacionarismo desta.Esta vem sendo a constante desta revista desde longa data: enodoar pessoas as quais todos nós brasileiros deveríamos nos orgulhar. Paulo, que dedicou seus 75 anos de vida lutando por um Brasil melhor, mais bonito e mais justo, não é o único alvo deles. Nem esta é a primeira vez que o atacam. Quando da morte de meu marido, em 1997, o obituário da revista em questão não lamentou a sua morte, como fizeram todos os outros órgãos da imprensa escrita, falada e televisiva do mundo, apenas reproduziu parte de críticas anteriores a ele feitas.A matéria publicada no n. 2074, de 20/08/08, conta, lamentavelmente com o apoio do filósofo Roberto Romano que escreve sobre ética, certamente em favor da ética do mercado, contra a ética da vida criada por Paulo. Esta não é, aliás, sua primeira investida sobre alguém que é conhecido no mundo por sua conduta ética verdadeiramente humanista.Inadmissivelmente, a matéria é elaborada por duas mulheres, que, certamente para se sentirem e serem parceiras do “filósofo” e aceitas pelos neoliberais desvirtuam o papel do feminino na sociedade brasileira atual. Com linguagem grosseira, rasteira e irresponsável, elas se filiam à mesma linha de opção política do primeiro, falam em favor da ética do mercado, que tem como premissa miserabilizar os mais pobres e os mais fracos do mundo, embora para desgosto deles, estamos conseguindo, no Brasil, superar esse sonho macabro reacionário.Superação realizada não só pela política federal de extinção da pobreza, mas, sobretudo pelo trabalho de meu marido – na qual esta política de distribuição da renda se baseou - que demonstrou ao mundo que todos e todas somos sujeitos da história e não apenas objeto dela. Nas 12 páginas, nas quais proliferam um civismo às avessas e a má apreensão da realidade, os participantes e as autoras da matéria dão continuidade às práticas autoritárias, fascistas, retrógradas da cata às bruxas dos anos 50 e da ótica de subversão encontrada em todo ato humanista no nefasto período daDitadura Militar.Para satisfazer parte da elite inescrupulosa e de uma classe média brasileira medíocre que tem a Veja como seu “Norte” e “Bíblia”, esta matéria revela quase tão somente temerem as idéias de um homem humilde, que conheceu a fome dos nordestinos, e que na sua altivez e dignidade restaurou a esperança no Brasil. Apavorada com o que Paulo plantou, com sacrifício e inteligência, a Veja quer torná-lo insignificante e os e as que a fazem vendendo a sua força de trabalho, pensam que podem a qualquer custo, eliminar do espaço escolar o que há de mais importante na educação das crianças, jovens e adultos: o pensar e a formação da cidadania de todas as pessoas de nosso país, independentemente de sua classe social, etnia, gênero, idade ou religião.Querendo diminuí-lo e ofendê-lo, contraditoriamente a revista Veja nos dá o direito de concluir que os pais, alunos e educadores escutaram a voz de Paulo, a validando e praticando. Portanto, a sociedade brasileira está no caminho certo para a construção da autêntica democracia. Querendo diminuí-lo e ofendê-lo, contraditoriamente a revista Veja nos dá o direito de proclamar que Paulo Freire Vive!
São Paulo, 11 de setembro de 2008Ana Maria Araújo Freire'.

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

O Surrealismo de Escher


Artes digitais, Arnaldo Antunes ( Hand-Made 5 - 1998)


Meus amores (André Luiz)

Ah, meus amores, quantos erros certos!
Quanta pele de carne beijada sem prazer
O dedo menor sempre levantado
Procurando a incerteza de um olhar vesgueiro.

Se o dragão preso em mim
Vos pedissem água, seria pra vos matarem afogadas
Em cinzas de qualidades duvidosas
Mas eu sou lebre: leve e branda.

Sou ser, sei ser, afinal, impávido
Entre o toque e o medo, há um lugar cego e intersticial
Por onde a leveza do amor escapa virgem
Eu então sei, desejos, entrementes afetos.

São asas do mesmo sol, brilham em si
São beijos de mesma cor, descolorindo
São letras de aquarela, e seus quilates
São vidas que se cruzaram, eu sendo o eixo.

Ah, meus amores, estou voltando pra mim!
A estrada avante, tem seus codinomes
E me leva até onde estão os nossos sonhos
São diamantes, e minha alegria cintila alto

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Revolucionário Bamba (Ieshua Pele Escura)

No samba político,
O pandeiro é a bomba
A explodir em sons sincronizados,
Os tímpanos acostumados.
O cavaco é a metranca
Que dispara acordes dissonantes,
Ferindo o ritmo lento dos inertes,
Fazendo jorrar no ar todos os coloridos confetes.
O reco-reco é a espada
Que, marcando o compasso,
Golpeia a boa ordem do passado,
Tornando o agora o ritmo do presente.
A viola é o mapa
Que, com suas melodias,
Indica os caminhos originais da alegria,
Trazendo à tona o sorriso como escudo da fantasia!
Os passos, o movimento corporal
Que, com ginga, escapam dos ataques externos,
Com o compromisso estético do eterno,
Transfigurando o corpo em versos.
O morro é o palco (novo quilombo),
Onde o revolucionário bamba cria
O estilo de vida do corpo liberto,
Nos domingos de cerveja e sexo...
Combatendo pela vida em diferença!

Notícias do Vaticano

Sapo verde está segurando nas mãos uma caneca de cerveja e um ovo.Obra 'fere os sentimentos religiosos de muitas pessoas', diz Vaticano.

Um museu italiano desafiou o papa Bento 16 e se recusou a remover uma escultura de arte contemporânea que mostra um sapo verde crucificado, segurando nas mãos uma caneca de cerveja e um ovo. O Vaticano considerou a peça uma blasfêmia.
A maioria dos membros do conselho do museu Museion, na cidade de Bolzano, decidiu que o sapo é uma obra de arte e continuará na exposição.
Chamada de "Zuerst die Füsse" (primeiro os pés), o sapo usa um pano verde na área da cintura e está pregado pelas mãos e pelos pés como Jesus Cristo. Uma língua verde pende para fora de sua boca.
O trabalho do artista alemão Martin Kippenberger, morto em 1997, foi exposto na Tate Modern e na Galeria Saatchi, em Londres, e na Bienal de Veneza. Retrospectivas da obra do artista estão programadas para Los Angeles e Nova York.
Autoridades do museu localizado na região ao norte de Alto Ádige disseram que o artista considerava a peça uma ilustração do medo sentido pelos seres humanos.
O papa, que nasceu na Alemanha e recentemente passou suas férias em um lugar perto de Bolzano, obviamente não concorda.
Em nome do papa, o Vaticano escreveu uma carta de apoio a Franz Pahl, líder do governo daquela região e uma das vozes contrárias à escultura.
"Claramente, não se trata de uma obra de arte, mas de uma blasfêmia e de um degradante pedaço de lixo que deixou muitas pessoas indignadas", afirmou Pahl à Reuters, por telefone, enquanto a diretoria do museu realizava uma reunião.
Na carta, o Vaticano disse que a obra "fere os sentimentos religiosos de muitas pessoas que vêem na cruz o símbolo do amor divino".
Fonte: G1

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

um conto p o blog e sua cena

wilton, além de enviar este conto p o blog, saiba que vou divulgá-lo aqui na ufpe p uma galera q eu articulo, valeu!!!!!!
boa negão, vc é do caralho!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!anarquia

Vincent, curta-metragem de Tim Burton


Essa é a cena inicial do macabro e surpreente Vincent, curta-metragem de Tim Burton. Vale a pena ver.
"A metamorfose", de Kafka. Adaptação para HQ de Peter Kuper.

Mapas da alcova (Jairo de Oliveira Ramos)

Era final de março e Marcílio sentia o outono rabiscar seus primeiros sinais nas folhas das árvores, ao mesmo tempo em que uma forte ventania adentrava o seu quarto levando aos ares páginas de livros, restos de muriçocas mortas e a sua existência num rodamoinho que o arremessou no meio de uma guerra sem fim. Precisamente, no campo de batalha das alamedas florais.

Tiros, muitos tiros. Canhões e tanques de guerra arremessando estilhaços de corpos pelo campo enlameado de sangue e púrpura das vísceras dos corações. Para onde vou? Em que trincheira me esconder?Em que alvo devo mirar? Pensava o jovem.

O seu instante de dúvida parecia soar como um erro na batalha campal. Sem mais hesitar fez-se a disparada. Correu... Correu enquanto despendia do céu bombas de lacrimogêneo... correu até faltar o fôlego, até faltar o tônus muscular para as pernas.Os pés carregados de lama e o corpo esquálido dialogava com a planície movediça e carregadas de edifícios vazios. Ainda recuperando o ar aos pulmões olhou para os lados, viu alguém acenar, a gritar desesperadamente. Parecia um homem com capa vermelha e chapéu de veludo, mas não conseguia distinguir bem a face por conta da neblina. O que ele tanto enuncia?Não estou escutando! Marcílio havia ensurdecido com os rojões de granada arremessados ao solo durante sua disparada.

Se rastejando pela lama encharcada de espinhos, o resmundo ia ao encontro deste homem. Rastejava. Os espinhos brechavam sua carne, mas ele insistia, olhou para o alto: o céu era cinza e o fez recordar de um mapa que guardava em seu bolso. Parou um pouco. Retirou o mapa e pôs-se a decifrar... Pensou: Talvez aqui possa encontrar o túnel que me tire deste amontoado de arames farpados. Num gesto de riso, sim, Marcílio ria soberbamente das linhas que se cruzam, embaralham, bifurcam e se fiam na cartografia que está em suas mãos...

Hei!Hei!Soldado! Venha para cá!- falava o homem. O jovem, então, guarda o mapa entre os dentes. Olha ao redor e observa transeuntes a olharem vitrines pelas calçadas e jantando nos restaurantes.Hei!Hei! Soldado!Vamos!
O combatente solitário mesmo com a audição perdida acredita que os gestos daquele homem de chapéu e capa realmente o estejam chamando. Neste momento, com uma fadiga enorme no corpo tira o papel dos dentes, olha-o rapidamente e agora vê quadrados no mapa. Guarda o papel no bolso esquerdo do blusão, enquanto à sua frente crianças soltam balões pelos ares...

Enfim tu chegaste! Já era tempo!Sente-se e respire com calma! Diz o senhor que tanto acenava para Marcílio que agora confirma a tua capa vermelha e teu chapéu de veludo.

O jovem extenuado observa os gestos do senhor e senta na cadeira, bebe uma xícara de café amargo e vê do outro lado do vidro que dividia a sala em que estava guilhotinas em série descarrilhando lâminas, e pós a queda do metal afiado sentiu no tremular do piso algo que terminara de cair ao chão.

Não se apavore!...Quero apenas o mapa que tu trazes e lhe abro a porta do túnel que você tanto procura.

Estático, o combatente entende o que aquele homem tanto deseja. Assim, com apenas um olhar indica onde se encontra tal cartografia. O senhor da capa vermelha com um pequeno riso retira o mapa do bolso da jaqueta... Uma porta se abre... Uma escada se revela na escuridão e o solitário desce por ela. Antes de fechar a porta o homem fala algo indiscernível para Marcílio em vias de desmaio sob a cama a sua frente...

Marcílio percebe passos no corredor, a pegada aumenta sua intensidade, seu peso e som vão delineando-se em seus sentidos... Quem será? Pensa ele enquanto pisca os olhos com uma leve brisa que adentra seu espaço de dormida. Uma sombra aparece na soleira da porta do quarto. Parece alguém com capa, chapéu e uma carta no bolso. Um frio toma o seu corpo e arrepios contaminam sua pele. Toc... Toc... Toc...

Sem levantar da cama, fica envolto com o cobertor encharcado de suor. Toc... Toc... Toc... Ele tenta se levantar, mas ainda não se refortaleceu da batalha das Alamedas. Sabe que alguém o chama que precisa abrir a porta, pressente que é uma voz rouca que não lhe é estranha te dizendo: vim lhe trazer uma xícara de café adoçado.

Marcílio respira fundo, olha para a janela que treliça com o vento, trazendo consigo folhas mortas e insetos para alcova. Vim te ver, não vai abrir a porta? Ao ver a fechadura se movendo, percebeu seu peito pulsar lentamente com um fluir frio do seu sangue se disseminando por completo pelo corpo. Assim mesmo, ameaçou um movimento, mas o nublado negrume entrara arranhando a parede com marcas de lama e fragmentos de pétalas nas mãos, deixando cair a xícara de café sob um corpo que jazia na cama juntamente com um mapa pintado de cinza.

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Poema de uma matilha investigada (Cristopher Moura)

A amargura deles era saber que não os viam
Isso lhes era quase insuportável
Pior do que serem enterrados vivos.

De resto, não se importavam
Viviam enfestados de pêlos
E amavam seus inimigos.

Gostavam de serem enterrados no concreto
Além disso, sentiam com satisfação a umidade da infiltração no concreto
Tudo se tornava um livro de memórias que se atualizava a cada instante.

sábado, 6 de setembro de 2008

poema

verbo sentido
por: andré luiz oliveira
por favor, não me molhe tuas lágrimas
doce; por que tanta incidência nesse corpo próximo (olhe), pergunta
trôpego e não...
uma palavra mentirosa vilipendiaria o senso
conexo e causa,
e estaria à órbita de um qualquer sozinho,
dispondo peças num jogo chamado mundo,
a liberdade repousante, dois pontos
esperando afinal a partícula fonemática.
o verso e o reverso de um rosto vivem a poça d'água
por que não elimina a placenta, outra pergunta
sintaxe: asfixia de uma imagem em desatenção,
discurso e forma; cortei e não diz onde pousaram os vermes,
nem escárnio, nem dor, odor
não, pare, exclamação, comece a parar de pensar,
deixa os sons se constituírem
até a balbúrdia fônica sangrar na beleza do absurdo
significa e devota o mesmo início
senão experimenta...
se aproxima, tece dois dedos de prosa ecológica comigo,
esquece que tem medo por um pouco
as fulgurações aparecerão aos corpos
como ao insano uma dose de egoísmo e único prazer
de verbo e sentido, ponto